Encontro promovido pelo Centro de Estudos da Metrópole e pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP debate os desafios enfrentados por professores, assistentes sociais, policiais e profissionais de saúde em contextos marcados pela vulnerabilidade
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| Estudos mostram maior incidência de abordagens violentas em regiões periféricas e contra pessoas negras Foto: José Cruz/ Agência Brasil |
Os chamados burocratas de nível de rua são os profissionais do setor público que lidam diretamente com o cidadão — professores, médicos, assistentes sociais, policiais, agentes de saúde, entre outros. “Eles são a interface entre o Estado e a sociedade, aqueles que efetivamente colocam as políticas públicas em prática”, explica a professora Catarina Ianni Segatto, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Segundo ela, esses trabalhadores são fundamentais porque não apenas executam as políticas, mas também tomam decisões no dia a dia sobre como aplicá-las, com base em suas condições de trabalho e no contexto social em que atuam.
Dupla pressão e falta de recursos
Catarina explica que esses profissionais enfrentam o que chama de “dupla pressão”: de um lado, a cobrança dos gestores para cumprir metas e diretrizes; de outro, a demanda da população por atendimento. “Eles trabalham em ambientes de escassez — de tempo, de estrutura, de recursos humanos — e precisam tomar decisões difíceis, tentando equilibrar essas duas exigências”, diz. Por isso, a formação e o apoio institucional são considerados essenciais. “A ideia é que os objetivos da política pública estejam integrados à identidade profissional desses trabalhadores, para que eles consigam agir de forma alinhada com o propósito da política e não apenas com a urgência do cotidiano.”
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| Catarina Ianni Segatto – Foto: Linkedin |
Violência e decisões sob tensão
Seminário promovido pelo CEM e pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP traz dois eixos principais de discussão. O primeiro aborda a violência na atuação policial; o segundo, a experiência de profissionais da saúde, educação e assistência social. “De um lado, temos os policiais, para quem a violência faz parte da rotina de trabalho; de outro, profissionais que não deveriam lidar com ela, mas acabam expostos a situações violentas em territórios marcados por vulnerabilidade”, explica Catarina. Pesquisas do CEM mostram que professores e agentes de saúde, por exemplo, convivem com casos de agressões, ameaças e até violência doméstica envolvendo seus alunos ou pacientes.
Essas situações exigem decisões rápidas e, muitas vezes, emocionalmente carregadas. Segundo Catarina, o contexto organizacional e os valores pessoais dos profissionais influenciam fortemente essas escolhas. “Policiais e outros burocratas acabam reagindo com base em julgamentos morais e estereótipos, o que pode reforçar desigualdades”, alerta. A professora lembra que estudos mostram maior incidência de abordagens violentas em regiões periféricas e contra pessoas negras, evidenciando o impacto das condições de trabalho e das percepções individuais sobre a implementação das políticas públicas.
Seminário promovido pelo CEM e pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP traz dois eixos principais de discussão. O primeiro aborda a violência na atuação policial; o segundo, a experiência de profissionais da saúde, educação e assistência social. “De um lado, temos os policiais, para quem a violência faz parte da rotina de trabalho; de outro, profissionais que não deveriam lidar com ela, mas acabam expostos a situações violentas em territórios marcados por vulnerabilidade”, explica Catarina. Pesquisas do CEM mostram que professores e agentes de saúde, por exemplo, convivem com casos de agressões, ameaças e até violência doméstica envolvendo seus alunos ou pacientes.
Essas situações exigem decisões rápidas e, muitas vezes, emocionalmente carregadas. Segundo Catarina, o contexto organizacional e os valores pessoais dos profissionais influenciam fortemente essas escolhas. “Policiais e outros burocratas acabam reagindo com base em julgamentos morais e estereótipos, o que pode reforçar desigualdades”, alerta. A professora lembra que estudos mostram maior incidência de abordagens violentas em regiões periféricas e contra pessoas negras, evidenciando o impacto das condições de trabalho e das percepções individuais sobre a implementação das políticas públicas.
Repensar o apoio e a formação
Entre os temas em debate, o seminário propõe pensar diretrizes para apoiar esses profissionais e reduzir o estresse e o risco a que estão expostos. “Muitos desenvolvem estratégias próprias para lidar com a violência, mas sem orientação adequada”, afirma Catarina. As discussões incluem desde reformas organizacionais até mudanças na formação, criando espaços institucionais de apoio e acompanhamento psicológico. “É preciso oferecer condições para que esses trabalhadores consigam lidar com o estresse e não reproduzam práticas que perpetuam desigualdades ou violem direitos.”
Para a pesquisadora, compreender o impacto da violência sobre quem está na linha de frente é essencial para melhorar a implementação das políticas públicas. “Esses profissionais são o rosto do Estado no cotidiano das pessoas”, conclui Catarina. “Ao apoiar seu trabalho e reduzir os efeitos da violência sobre suas decisões, também fortalecemos a capacidade do Estado de agir de forma mais justa, empática e efetiva.”
Por Jornal USP




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