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Polêmica da venda de sutiã para meninas vai parar na OEA

Polêmica da venda de sutiã para meninas vai parar na OEA

Para entidades de direitos humanos consumo de lingerie com bojo estimula erotização precoce

Hilka Telles
Rio - A polêmica sobre sutiãs com enchimento para crianças com idades de 6 a 12 anos extrapolou as fronteiras do Brasil e aportou na Organização dos Estados Americanos (OEA), que deverá decidir em 90 dias se recomendará ou não ao governo brasileiro a proibição da venda do produto no país.

A denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA foi encaminhada na sexta-feira passada pela Organização de Direitos Humanos Projeto Legal e pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos, que consideram os sutiãs uma forma de erotização das crianças, além de ser prejudicial à saúde delas (produz suor excessivo).

“Então, é o caso de proibir também o funk. Tem coisa mais erotizante para a criança do que o funk, em que meninas pequenas rebolam até o chão e dançam na boquinha da garrafa? Sem contar as letras com forte apelo sexual”, atacou o empresário Márcio Luiz Primo, dono da Lila Lingerie, em São Paulo, que produz cinco mil peças por mês para crianças.
Em 2013, as duas entidades de direitos humanos pediram que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurasse inquérito civil público para investigar o comércio do produto com o objetivo de combater o processo de erotização de crianças e adolescentes.

Em dezembro, a promotora Ana Paula Ribeiro Rocha de Oliveira arquivou a representação, alegando que os sutiãs não detêm qualquer cunho erótico e sexual. “Pelo contrário, vislumbra-se até uma forma de proteção aos seios de forma a evitar a transparência e aparecimento dos mamilos, que muitas vezes ocorre nos sutiãs sem esse enchimento”, disse a promotora em seu despacho.

Carlos Nicodemus, advogado da Organização de Direitos Humanos Projeto Legal, recorreu da decisão ao Conselho do Ministério Público, que no início deste mês referendou a sentença de arquivamento da promotora. “Esgotamos internamente os recursos no Brasil e, por isso, estamos recorrendo à OEA, com base no Estatuto e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente”. Se a comissão da OEA acatar a denúncia e recomendar medidas administrativas e econômicas para coibir a comercialização dos sutiãs com enchimento, cabe ao governo brasileiro acatá-las.

“Caso contrário, a Corte Interamericana de Direitos Humanos intercede e a recomendação passa a ter cunho de decisão e obrigatoriedade, já que o Brasil reconheceu os poderes do órgão judicial em 1999”, explicou Nicodemus.
Sexualização infantil pode gerar frigidez

Para a doutora em psicologia clínica e professora da PUC-RJ Teresa Negreiros, o tema da erotização precoce é antigo. “As meninas são impúberes e já assimilam o corpo adulto que não têm. Os tempos mudaram, mas não a ponto de se permitir prejuízos psicossociais na infância”, avalia.

“As crianças vivem uma idade que não têm e uma idealização de imagem para a qual ainda não são amadurecidas. As famílias estão dominadas pelos desejos infantis, prejudiciais aos aspectos educacionais. Essa exacerbação da sexualidade pode levar a um processo de frigidez no futuro.

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