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Buscas por remédios para dormir sem receita crescem 1.450% e acendem alerta sobre automedicação

Buscas por remédios para dormir sem receita crescem 1.450% e acendem alerta sobre automedicação

Ansiedade e insônia são tratadas de forma inadequada com remédios obtidos sem receita; número de mortes por automedicação passa de 20 mil por ano no Brasil
Buscas por remédios para dormir sem receita crescem 1.450% e acendem alerta sobre automedicação
O perigoso hábito da automedicação entre os jovens atingiu um nível alarmante, impulsionado pela busca de soluções rápidas para a ansiedade e a insônia. Um reflexo direto desse cenário é o aumento de 1.450% nas buscas online por “remédios para dormir que não precisam de receita” nos últimos cinco anos, segundo pesquisa da Timelens, empresa especializada em inteligência de dados. O número expõe uma crescente e arriscada tendência de contornar o diagnóstico médico em favor de soluções imediatas, mas perigosas.

Essa procura autônoma por medicamentos ocorre em um contexto de ampla medicalização da saúde mental. Dados da Anvisa, por exemplo, mostram que o consumo de ansiolíticos como o Lorazepam cresceu mais de 50% na última década. A popularização desses fármacos contribui para a normalização do uso, incentivando jovens a buscar alívio para o sofrimento emocional por conta própria, sem a devida orientação profissional.

A endocrinologista da Afya Ipatinga, Dra. Cristiana Sampaio Mota Souza, esclarece que o uso indiscriminado de medicamentos pode causar toxicidade aguda ou efeitos cumulativos, afetando especialmente o fígado e os rins, responsáveis pela metabolização e excreção dos fármacos.“A condição pode levar à insuficiência hepática, por sobrecarga e necrose dos hepatócitos, e a insuficiência renal aguda. Além disso, há riscos cardiovasculares, como arritmias decorrentes de alterações eletrolíticas, e respiratórios, como a depressão do centro respiratório em casos de uso abusivo de sedativos e opioides. Os órgãos mais vulneráveis ao uso inadequado são o sistema nervoso central, o fígado, os rins e o coração.”

A especialista reforça que automedicação para problemas psicológicos, como ansiedade e insônia, pode causar danos físicos graves porque os medicamentos comumente utilizados como benzodiazepínicos, antidepressivos e hipnóticos, atuam diretamente no sistema nervoso central modulando neurotransmissores como GABA, serotonina e noradrenalina. “A saúde mental está intimamente ligada ao funcionamento do corpo, quadros crônicos de ansiedade e insônia alteram o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, favorecendo distúrbios como hipertensão, hiperglicemia e dislipidemia. Ao tentar aliviar esses sintomas por conta própria, o indivíduo pode agravar o desequilíbrio físico e psíquico, aumentando os riscos à saúde geral”, complementa a médica da Afya Ipatinga.

Efeitos e dependência da automedicação no Brasil


O Brasil registra cerca de 20 mil mortes por ano devido à automedicação, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma). A psicóloga da Afya Contagem, Andréa Chicri Matiassi, informa que a automedicação entre jovens costuma ser uma tentativa de silenciar o sofrimento emocional sem recorrer à escuta terapêutica. “Angústia, desamparo e sensação de inadequação estão no centro desta escolha, muitas vezes guiada pela crença de que é preciso “funcionar” o tempo todo, sem espaço para fragilidades. Há também a ideia de que a terapia é demorada ou inacessível, enquanto os medicamentos prometem alívio imediato.”

A psicóloga também esclarece que a banalização da medicalização da saúde mental, reforça uma cultura de alívio imediato que enfraquece a elaboração simbólica do sofrimento. Ao reduzir experiências subjetivas complexas, como ansiedade ou angústia, a sintomas fáceis de serem eliminados, promove-se a ideia de que o mal-estar deve ser silenciado e não compreendido.

“Esse fenômeno tem impactos em dois níveis. No individual, pode gerar dependência não só química, mas simbólica, ao reforçar a busca de soluções externas e enfraquecer a autonomia do sujeito diante de seu sofrimento. No coletivo, contribui para uma sociedade que normaliza a medicalização como resposta padrão, refletindo um ideal de produtividade constante e intolerância à pausa ou à escuta”, conclui a especialista da Afya Contagem.

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