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Prefeitura de Aparecida (SP) quer criar taxa para veículos em turismo na cidade

Prefeitura de Aparecida (SP) quer criar taxa para veículos em turismo na cidade

 Especialista em turismo avalia desafios e oportunidades de modelos já aplicados no Brasil
Prefeitura de Aparecida do Norte quer criar taxa para veículos em turismo na cidade
Prefeitura de Aparecida do Norte quer criar taxa para veículos em turismo na cidade / Foto Basílica de Aparecida - pexels.com
A prefeitura de Aparecida (SP) apresentou à Câmara Municipal um projeto de lei que cria a Taxa de Turismo Sustentável, destinada a veículos que chegam à cidade para fins turísticos, religiosos ou de visitação. O valor será calculado de acordo com o porte do veículo e o tempo de permanência, com faturamento por meio de sistema eletrônico de reconhecimento de placas.

Para Santuza Macedo, especialista em turismo e CEO da Diamond Viagens, a discussão sobre a taxa precisa considerar o perfil real de quem visita Aparecida. “O público vai, majoritariamente, ao Santuário Nacional, onde já desembolsa R$ 45 apenas para estacionar. Somar a esse valor uma taxa municipal pode transformar a experiência em um peso financeiro. É importante lembrar que boa parte desses visitantes pertence a grupos religiosos ou familiares de renda média e baixa, que fazem o esforço de viajar em busca de fé e pertencimento. Nesse cenário, a cobrança sem contrapartida clara corre o risco de afastar turistas e prejudicar justamente os pequenos empreendedores locais que dependem desse fluxo contínuo de peregrinos”, avalia.

Exemplos no Brasil: aprendizados e controvérsias

Em Caldas Novas (GO), a Taxa de Preservação Ambiental já integra a rotina do turismo. Os valores variam de R$ 5, no caso de motocicletas, a R$ 183 para ônibus, conforme o porte do veículo. A arrecadação é destinada à conservação ambiental, revitalização de pontos turísticos e manutenção da infraestrutura urbana, com isenções para moradores e veículos de serviços essenciais.

Em Fernando de Noronha (PE), a cobrança é individual e diferenciada para brasileiros e estrangeiros. O recurso financia fiscalização, gestão ambiental e preservação de ecossistemas frágeis.

Já no Sudeste, Campos do Jordão e Ilhabela (SP) discutem propostas semelhantes, mas ainda sem implementação. Cabo Frio (RJ) restabeleceu recentemente a cobrança de R$ 2.500 para entrada de ônibus de turismo sem placa local. A medida gerou críticas do setor, mas foi validada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que reconheceu a legalidade como instrumento de ordenamento urbano e preservação da infraestrutura municipal.

Potenciais benefícios

Na visão de Santuza Macedo, a taxação pode ser positiva quando aplicada com critérios. O primeiro ponto é a arrecadação direcionada: “É uma forma de fazer o turismo contribuir para custos que ele próprio gera, como limpeza urbana e manutenção de vias”, afirma.

Outro ganho está na preservação ambiental. Em destinos de grande fluxo, a receita pode sustentar medidas de sustentabilidade e proteção de patrimônios naturais e culturais. “Em locais de alta demanda, esse recurso pode ser decisivo para preservar o que dá sentido à experiência turística”, completa.

A especialista também ressalta o potencial de melhoria da infraestrutura urbana, com investimentos em mobilidade, acessos, sinalização e banheiros públicos. “Essas obras beneficiam tanto turistas quanto moradores, criando cidades mais preparadas e agradáveis”, acrescenta.

Riscos e desafios

Por outro lado, Santuza alerta que a medida pode gerar efeitos negativos. A resistência de turistas e empresários é um deles: “Quando a taxa é vista como um ônus, principalmente em valores altos ou somada a outros custos, há risco de desestimular viagens”.

A complexidade operacional também pesa. Para funcionar, é necessário implantar sistemas de fiscalização e monitoramento eficientes, o que exige investimento inicial e gestão qualificada. Outro ponto é a justiça fiscal: isenções para moradores, trabalhadores ou veículos oficiais, embora necessárias, reduzem o impacto financeiro esperado.

Além disso, o fluxo turístico pode ser afetado, sobretudo em segmentos sensíveis ao custo, como o turismo religioso. “Se a cobrança não for bem divulgada ou for percebida como arbitrária, pode comprometer a principal vocação de Aparecida”, analisa Santuza.

Para Santuza um dos pontos de maior sensibilidade na proposta é o peso financeiro que pode recair sobre os visitantes. “Em Aparecida, quem vai à cidade geralmente tem como destino principal o Santuário Nacional, que já cobra R$ 45 pelo estacionamento. Com a eventual adoção de uma taxa municipal somada a esse valor, o custo da visita pode se tornar um fator de desestímulo. Para turistas de baixa e média renda, especialmente grupos familiares ou excursões religiosas, cada taxa adicional representa impacto direto no orçamento da viagem”. Na avaliação da especialista, o risco é que, em vez de fortalecer a economia local, a cobrança em excesso acabe afastando peregrinos e reduzindo o fluxo de visitantes, justamente o público que mantém viva a vocação turística e religiosa da cidade.

“A proposta de Aparecida reflete uma tendência nacional de municípios que buscam equilibrar turismo e sustentabilidade financeira. Com diálogo e transparência, pode se tornar um instrumento de preservação e de melhoria da experiência turística. Mas, se mal conduzida, corre o risco de afastar justamente o público que mantém a cidade viva”, conclui Santuza.

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