Embora o fim do ano seja lembrado como um período de encontros, celebração e casa cheia, para muitas pessoas ele traz justamente o contrário: silêncio, ausência e a sensação de não pertencer. Dados do IBGE mostram que 15 milhões de brasileiros vivem sozinhos — e estudos internacionais indicam que, em dezembro, a percepção de solidão pode aumentar em até 30%.
Para a psiquiatra Bianca Bolonhezi, CEO do Instituto Macabi, esse contraste entre expectativa e realidade é um dos fatores que mais ampliam o sofrimento emocional. “O imaginário das festas é muito poderoso. Ele projeta uma ideia de família perfeita, mesa farta, vínculos sólidos. Quem não vive essa experiência acaba sentindo que está ‘fora do lugar’. Muitos pacientes me dizem que têm vergonha de passar o fim do ano sozinhos, como se isso significasse que há algo errado com eles”, explica.
Bianca reforça que a solidão é frequentemente invisível — e, por isso, subestimada. A OMS alerta que a solidão crônica aumenta o risco de depressão, ansiedade e até doenças físicas. “Solidão não é apenas falta de companhia. É a sensação profunda de desconexão. E dezembro, com seus rituais sociais e emoções intensificadas, amplifica tudo isso”, afirma.
Para quem enfrenta esse período sem rede de apoio, a psiquiatra sugere caminhos gentis: buscar espaços de convivência, participar de atividades comunitárias, fortalecer vínculos existentes — mesmo que pequenos — e, quando necessário, procurar apoio profissional. “Não se trata de ter muitos amigos ou uma grande família, mas de construir relações que ofereçam acolhimento. Pertencer é uma necessidade humana, não um privilégio”, completa.



0 Comentários