Estudo inédito do ISP analisa crimes de injúria e preconceito com motivações raciais
Na análise do perfil das vítimas, constatou-se que a maioria é mulher, com idades entre 40 e 59 anos. Em 42,9% dos casos, as vítimas não possuíam nenhuma relação com os autores dos crimes. Estas são as primeiras estatísticas oficiais sobre o tema usando como fonte de dados quase três mil registros de ocorrência confeccionados em 2018 e 2019 nas delegacias da Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Em cerimônia, realizada no Palácio Guanabara, a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz, resumiu o objetivo do trabalho.
- O ISP se orgulha muito de lançar um estudo tão importante para ajudar a construir a sociedade que queremos. A elaboração desse Dossiê é importante não só para nortear os Poderes na criação de novas políticas para reduzir o número de casos de racismo, como também para aprimorar os instrumentos estatais que já estão funcionando – afirma.
A delegada titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), Marcia Noeli, explicou o funcionamento da unidade, que é especializada nesses crimes, e incentivou a denúncia dos casos.
- Para construir uma sociedade melhor, precisamos cada vez mais aprender com esses estudos e entender que a denúncia é de extrema importância para que os autores sejam punidos e, com isso, enfrentar esse mal – disse.
Crimes motivados por discriminação racial
No estado do Rio de Janeiro, em 2019, foram 1.706 vítimas de crimes praticados contra a honra como, injúria por preconceito, injúria real e preconceito de raça e de cor. Destas, 844 sofreram discriminação por motivação racial, sendo que 766 destas vítimas eram negras.
Perfil da vítima e dos autores
Mais da metade das vítimas de racismo no ano passado eram mulheres (58,2%). Os homens representaram 39,7% do total. Ao analisar a idade, quase 1/3 tinha entre 40 e 59 anos (262) e 8,7% tinha até 17 anos (73). Segundo o Dossiê, 46,3% dos autores eram conhecidos das vítimas e 42,9% eram pessoas com as quais as vítimas não possuíam nenhuma relação. É importante ressaltar que cerca de metade dos autores desses delitos (45,8%) eram mulheres.
Os ambientes não residenciais foram locais com a maior incidência de ofensas (43,3%), seguido pela residência (27,1%) e pelo ambiente virtual (5,5%), ou seja, a internet.
Perfil das ofensas
Durante a análise dos dados, os analistas do ISP realizaram a leitura de cerca de 3 mil registros de ocorrência e constaram as ofensas verbais proferidas com mais frequência contra as vítimas de racismo no estado. Palavras como “macaca”, “macaco”, “negra”, “preto”, “preta” e “cabelo duro” foram as mais usadas pelos agressores. O que se observa nas palavras em destaque é que os aspectos que constroem o fenótipo negro (cor da pele, formato do nariz, textura do cabelo), as religiões de matriz africana e a própria herança histórica da escravização foram os elementos utilizados para a depreciação das vítimas.
Distribuição espacial
A capital concentrou o maior número de vítimas em 2019 (422), seguida pelo Interior do estado (255), Baixada Fluminense (100) e Grande Niterói (67). Na capital, os bairros do Recreio, Barra da Tijuca e Taquara, com 36, 30 e 23 vítimas, respectivamente, foram os que tiveram a maior concentração de casos. Fora da capital, o município de Teresópolis, Petrópolis e a região central de Niterói com, respectivamente, 22, 17 e 16 vítimas, registraram o maior número de vítimas no ano passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela sua mensagem. Entre em contato com a nossa redação através do WhatsApp (24) 9 9914-5825