O dado foi apresentado durante audiência pública da Comissão da Alerj de Defesa da Mulher, que discutiu a violência estatal
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| Foto: Thiago Londra |
Para a presidente da Comissão, deputada Renata Souza (Psol), a audiência evidenciou uma violência muitas vezes invisibilizada. “Foi possível perceber como as operações policiais deixam impactos profundos na vida dessas mulheres, e essa audiência serviu justamente para escutá-las e, com a contribuição da sociedade civil e do Ministério Público, construir medidas efetivas para coibir essa violência estatal”, afirmou.
Mudança na política de segurança pública
Íris Rosa, pesquisadora do Instituto, apontou a necessidade de mudanças na política de segurança pública do Estado. “Os dados mostram que a violência estatal, que atinge mulheres, tem cor e território, concentrando-se em áreas periféricas e majoritariamente negras. Esse cenário evidencia a urgência de uma política de segurança pública orientada por critérios científicos, com controle externo efetivo das ações policiais e construída em diálogo com a sociedade”, pontuou.
O procurador da República do Ministério Público Federal, Eduardo Benones, fez uma análise estrutural da violência a partir da perspectiva de gênero, raça e território. “Os sentidos que organizam a vida social são masculinos e resultam de uma construção patriarcal. Por isso, medidas paliativas não dão conta nem da violência contra a mulher nem do racismo, já que essas violências se atravessam e recaem de forma esmagadora sobre as mães nas comunidades. Sem enfrentar essas estruturas, a política de segurança pública seguirá reproduzindo essas desigualdades”, disse.
Impactos Indiretos
A coordenadora de projetos da Redes da Maré, Tainá Alvarenga, alertou para os impactos indiretos das operações policiais na vida de mulheres moradoras de comunidades. Segundo ela, apenas nas ações realizadas em agosto deste ano no conjunto de favelas da Maré, mais de 40 domicílios, muitos chefiados por mulheres, foram violados. “A entrada de agentes em residências abre um leque de violações e provoca traumas que afetam diretamente o psicológico dessas mulheres, além de ampliar situações de medo, intimidação e insegurança no cotidiano feminino nos territórios”, afirmou.
Patrícia Carvão, representante do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), afirmou que as operações policiais afetam de forma desproporcional as mulheres, mesmo quando elas não são vítimas diretas da violência. “Ao final das ações, são majoritariamente as mulheres que permanecem nos territórios, assumindo a responsabilidade de buscar informações e identificar os corpos de seus familiares e esse é o momento de maior dor. Uma das conclusões a que chegamos é a necessidade de um olhar mais atento dos órgãos públicos sobre essas mulheres”, disse.
Também estiveram presentes no encontro a representante da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado, Fabiana Silva; a assistente social da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência do Estado (RAAVE), Lidiane Helena; e a representante da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, Raiza Palmeira.
Por Clariana Dantas



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