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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Laudo afasta hipótese de idosa ter morrido após receber café com leite na veia

Laudo cadavérico de Palmerina Pires Ribeiro, de 80 anos, morta em outubro de 2012, no PAM de São João de Meriti
Laudo cadavérico de Palmerina Pires Ribeiro, de 80 anos, morta em outubro de 2012, no PAM de São João de Meriti Foto: Coren-RJ / Divulgação
Fabíola Leoni,Matheus Carrera - O Globo

RIO — O laudo cadavérico de Palmerina Pires Ribeiro, de 80 anos, aponta que a morte da idosa, ocorrida no Posto de Assistência Médica (PAM) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, em outubro de 2012, não teve relação com a dose de café com leite que ela teria recebido na veia, no período em que esteve internada na unidade. O documento foi divulgado nesta terça-feira pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ). De acordo com o laudo, Palmerina teve infecção pulmonar e urinária e morreu após dez dias de internação no PAM. Ainda segundo o laudo, o sangue da idosa tinha aspecto normal e não foram evidenciados sinais de embolia gordurosa cardíaca e pulmonar, o que, segundo o conselho, afasta a possibilidade de a paciente ter recebido café com leite na veia.
A morte da idosa teve grande repercussão. A estagiária de enfermagem Rejane Moreira Telles chegou a declarar que teria trocado os tubos e injetado, sem querer, a bebida em local errado.
— Quando uma pessoa administra qualquer leite via intravenosa, a substância automaticamente se transforma em gordura, e a pessoa faz uma embolia gordurosa. Se não tem embolia, então essa cidadã não aplicou leite na veia. O laudo não mostrou que a morte foi induzida, mostrou apenas que houve infecção pulmonar e urinária — afirmou o presidente do Coren-RJ, Pedro de Jesus. — Caem por terra todas as suposições, culpas, lamentações.
O auto de exame cadavérico, assinado pelo perito legista Paulo Reigota, não evidencia a presença “de substância atípica (leite)” no sangue da idosa. Em outubro, a estagiária disse na delegacia que a técnica responsável pela orientação estava usando o celular na hora do atendimento à idosa. Sem receber a devida orientação, Rejane teria confundido a sonda com um acesso venoso e aplicado, por duas vezes seguidas, café com leite na corrente sanguínea da idosa. Ao delegado Alexandre Ziehe, a estudante — que estava há apenas três dias no estágio — contou que nunca havia administrado medicação em pacientes. A secretária de Saúde de São João de Meriti, Patrícia Carvalho Coelho, disse, na época, que duas técnicas de enfermagem que trabalhavam no leito onde a idosa morreu foram exoneradas, assim como uma enfermeira responsável pelos estagiários.
Pedro de Jesus afirmou que se preocupa com a condenação “antecipada” de um profissional antes de “fatos concretos”.
Segundo o presidente do Coren, a estagiária administrou os tubos sem saber o que estava fazendo, “mas fez certo, foi na via correta”.
— Na hora em que a estagiária aplicou (o café com leite), por infelicidade, a paciente morreu. Isso deixou a menina enlouquecida. Foi quando ela assumiu que fez errado. Mas ela tinha feito certo. A única prova agora é o laudo cadavérico.
Questionado sobre o paradeiro da estudante, o presidente do Coren disse que ninguém do conselho consegue encontrá-la:
— Ela tinha leucemia. O sonho dela era fazer enfermagem, já que ela ficava muito tempo internada e via o carinho das profissionais. Naquele momento, não teve mais vontade, parece que largou o curso.
No documento está escrito que “caso o resultado da coleta de pesquisa toxicológica e pesquisa de substância atípica vir positivo, o laudo final poderá ser modificado”. O Coren informou, no entanto, que, caso realmente o exame toxicológico seja feito, será para efeito de confirmação.
Procurado, o Ministério Público informou que ainda não recebeu o laudo.
Pedro de Jesus se arriscou a dizer que, a partir do laudo, não há como condenar a técnica, que, automaticamente, estaria isenta da responsabilidade pela morte de Palmerina:
— Quem poderia ser responsabilizado era o enfermeiro. Mas ele não vai ser, pois foi um fato que não houve.

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