O Divórcio
A controvérsia acerca do divórcio no mundo cristão tem sido interminável. Centenas de escritores têm se expressado a respeito, e ele tem sido debatido em concílios e convenções denominacionais há séculos, mas nosso povo ainda continua sem entendê-lo bem.
A declaração acima de Duty resume bem a questão sobre o divórcio na igreja evangélica brasileira. O autor dedicou quatorze anos estudando sobre a possibilidade de um novo casamento para a parte inocente, vítima da infidelidade conjugal. Destacamos ainda a seguinte declaração de Duty:
O divórcio não escriturístico é um dos grandes perigos de nossos dias. Muitas das igrejas modernas são tão lassas em sua aceitação do divórcio como o foram os fariseus dos dias de Jesus, que permitiam a separação por “qualquer motivo”. Rejeitamos e detestamos este tipo de divórcio “hollywoodiano” Acredito que devemos estabelecer princípios rígidos contra o abuso do divórcio, e devemos ater-nos às Escrituras, permitindo apenas aquilo que elas permitem.
Após uma profunda análise exegética nas Escrituras, Duty chegou a conclusão de que o divórcio, que implica na dissolução do casamento e na possibilidade de casar de novo, só é permitido para a parte inocente no caso de adultério (Mt 5.31-32; 19.3-12; Mc 10.1-12) e no caso do cônjuge descrente tomar a iniciativa de abandonar o crente (1 Co 7.10-15).
Nos dias atuais, no meio evangélico brasileiro, há inúmeros casos de pastores e de ovelhas que se divorciaram sem se enquadrarem nos casos bíblicos, e que se casaram novamente. Há também as questões práticas que envolvem o divórcio. Sobre isso o pastor Esequias Soares comenta de maneira bastante pertinente:
O problema do divórcio não se resume ao que temos visto até agora. Há o lado prático, extremamente complexo e, em muitos casos, de difícil conclusão [...]. O Senhor Jesus disse que quem casa com o cônjuge divorciado ou divorciada, que tenha sido a parte infiel no primeiro casamento, comete adultério. Assim ambos estarão em adultério (Mt 19.9; Mc 10.11, 12). Como a Igreja pode receber em comunhão uma pessoa que cometeu adultério, destruiu o próprio lar, depois vem com outro cônjuge pedir a sua reconciliação com a Igreja, visto que à luz da Bíblia ambos estão em adultério? Será que não há reconciliação para situações dessa natureza? A Bíblia nada declara sobre isso. Afirma apenas que eles estão em adultério, mas não diz se a situação é irreversível. Fica difícil generalizar, pois cada caso é um caso. Em situações extremas, cabe ao pastor da Igreja analisar cada situação.
Sem dúvida alguma, as questões de ordem prática levantadas pelo pastor Esequias Soares são bastante delicadas, e fazem parte do cotidiano das igrejas locais. Faço aqui algumas considerações:
“Como a Igreja pode receber em comunhão uma pessoa que cometeu adultério, destruiu o próprio lar, depois vem com outro cônjuge pedir a sua reconciliação com a Igreja, visto que à luz da Bíblia ambos estão em adultério?”.
É no mínimo bastante constrangedor para a igreja local lidar com tais situações, principalmente quando a parte ofendida ou inocente congrega na mesma igreja onde o casal de adúlteros busca a reconciliação. Sempre que os princípios e mandamentos bíblicos são quebrados, as consequências negativas e constrangedoras são inevitáveis.
“Será que não há reconciliação para situações dessa natureza? A Bíblia nada declara sobre isso. Afirma apenas que eles estão em adultério, mas não diz se a situação é irreversível. Fica difícil generalizar, pois cada caso é um caso. Em situações extremas, cabe ao pastor da Igreja analisar cada situação”
É fato que a Bíblia não trata com detalhes sobre a questão da reconciliação dos casais em adultério por parte da Igreja, mas especifica a situação daqueles que estão nesta condição em relação ao Reino de Deus:
Em se tratando de questões práticas, entendo que há situações em que o pastor e/ou a igreja local desligam ou excluem pessoas do rol de membros, mas estas permanecem com os seus nomes escritos no Livro da Vida, em plena comunhão com o Senhor. Quantos já não foram excluídos injustamente por motivos banais, por razões que não envolve transgressão contra a Palavra e pecado (por exemplo, os que são alvos de acusações e calúnias não apuradas devidamente)? Por outro lado, há também os que são reconciliados pelo pastor e/ou igreja local, mas que podem ainda estar separados de Deus em razão da posição da igreja não estar em linha com os princípios, fundamentos e mandamentos bíblicos.
Uma coisa é certa, como bem afirma o pastor Elinaldo Renovato na conclusão da Lição Bíblica: "Precisamos tratar cada caso de modo pessoal sempre em conformidade com a Palavra de Deus". Sem dúvida alguma, “cada caso é um caso”, mas todos os casos estão debaixo da autoridade final das Escrituras. Em se tratando de divórcio, as exceções e condições são aquelas aqui já expostas. Fora disso, o pastor e/ou a igreja podem até reconciliar o casal em adultério, mas a palavra final no assunto é a do Senhor, o justo juiz (Sl 7.1; Lc 18.7-8).
Se a reconciliação de um casal em adultério feita pela Igreja for aceita diante de Deus, este casal será aceito também no Reino de Deus, em sua realidade presente, futura e eterna. Neste caso, o texto de 1 Coríntios 6.9-11 deveria ser desconsiderado? Deveria se entendido como uma questão válida apenas no contexto imediato dos destinatários da epístola?
É preciso ter cuidado para não incorrermos no excesso de justiça, nem no excesso de misericórdia. É necessário estar alerta para não fecharmos portas, nem também escancará-las. A graça precisa sempre ser considerada, mas nunca banalizada.
Vale ainda lembrar que o divórcio, nos casos de infidelidade conjugal, não se trata de um imperativo, mas de uma permissão. A parte inocente ou ofendida pode, se assim desejar, entendendo que é o melhor a fazer, perdoar o cônjuge infiel, e contar com a graça de Deus na restauração e manutenção de seu casamento e família.
Por fim, nunca devemos esquecer que em relação ao divórcio, Deus o odeia:
Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio e aquele que encobre a violência com a sua veste, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, guardai-vos em vosso espírito e não sejais desleais. (Ml 2.16, ARC)
Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis. (Ml 2.16, ARA)
Pois aborreço o divórcio, diz Jeová, Deus de Israel, e aquele que cobre de violências os seus vestidos, diz Jeová dos Exércitos. Portanto, guardai o vosso espírito, para que não vos hajais aleivosamente. (Ml 2.16, TB)
Eu odeio o divórcio, diz o Senhor, o Deus de Israel, “e também odeio o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas”, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis. (Ml 2.16, NVI)
Pois o SENHOR Todo-Poderoso de Israel diz: — Eu odeio o divórcio; eu odeio o homem que faz uma coisa tão cruel assim. Portanto, tenham cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher. (Ml 2.16, NTLH)
Como bem nos diz a citação no início deste artigo, as controvérsias e discussões em torno do assunto são intermináveis e centenárias.
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