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Especialistas divergem sobre uso de antidepressivos

Especialistas divergem sobre uso de antidepressivos

Psicólogos e psiquiatras divergem sobre o uso adequado de antidepressivos. O assunto foi debatido pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara (nesta quinta-feira, 8). No Brasil, já são 11,5 milhões de pessoas que sofrem de depressão e, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de casos cresceu em torno de 18% nos últimos dez anos.

A representante do Conselho Federal de Psicologia Rosane Granzotto atribui esse aumento ao contexto socioeconômico atual: com mais competitividade e exigências no trabalho; consumismo exacerbado; cobranças por um corpo perfeito e jovem; e também o aumento das relações virtuais em vez do contato interpessoal. Todos esses fatores, segundo a psicóloga, provocam ansiedade, fragilidade e frustração e podem levar à depressão.

Rosane Granzotto alertou, entretanto, para o fenômeno da "medicalização da vida", pelo qual o uso excessivo de antidepressivos leva à banalização desses remédios no enfrentamento de questões rotineiras. O caminho ideal, segundo ela, seria a ajuda profissional interdisciplinar.

"Nós não aceitamos que a leitura de uma configuração clínica seja exclusivamente biológica, porque nós sabemos que as relações imprimem uma forma de comportamento que se perpetua pela vida; então, não podemos deixar de considerar os laços afetivos, a forma com que esse ser vem ao mundo e como ele é acolhido, ou como ele é abandonado, ou como ele é violentado, ou como ele recebe amor, enfim, tudo isso vai, sim, configurar sua saúde mental."

Já o representante da Associação Brasileira de Psiquiatria Antônio Geraldo da Silva lamentou que, por desconhecimento, o psiquiatra ainda enfrente muito preconceito. A depressão, segundo ele, apresenta um conjunto de sintomas e deve, sim, ser tratada por uma equipe multidisciplinar. Ele advertiu, porém, sobre o risco de suicídio no caso de depressão grave. No Brasil, esse número já chega a 33 suicídios por dia.

"Depressão leve pode ser tratada só com psicoterapia, atividades físicas e tudo mais. Agora, depressão leve para moderada, moderada, moderada para grave e depressão grave você não tem como não tratar adequadamente e isso inclui o uso de antidepressivo. Lembrando que nós precisamos responsabilizar as pessoas que evitam ou não tratam as pessoas que têm depressão e que suicidam. Esse mundo de suicídios que estamos tendo no Brasil, muitos deles poderiam ter sido evitados se tivessem diagnosticado precocemente o quadro de depressão ou se não negassem que a doença existe."

O próprio Ministério da Saúde reconhece a gravidade do problema e, através de um acordo com o CVV - Centro de Valorização da Vida - e a Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações, vai oferecer, em até dois anos, uma linha telefônica gratuita para o serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio. Hoje, no serviço prestado voluntariamente pelo CVV, a ligação é paga.

Autor do requerimento para esse debate na Comissão de Seguridade Social e Família, o deputado Flavinho, do PSB de São Paulo, destacou projeto de lei (PL 1938/15) em discussão na Câmara que cria a Semana Nacional de Luta e Conscientização sobre a Depressão nos dias seguintes a 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental. Ele avalia que o número de casos de depressão no País justifica a proposta como forma de alerta para a população.
Reportagem - Geórgia Moraes

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