Rádio Acesa FM VR: Campanha Nacional de combate à hanseníase é aberta pela primeira vez em um quilombo

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Campanha Nacional de combate à hanseníase é aberta pela primeira vez em um quilombo

Comunidade do Bongaba foi escolhida por seu histórico de resistência e participação popular

Pela primeira vez no Brasil, um quilombo abriu a Campanha Nacional de combate à hanseníase. O evento de lançamento aconteceu na terça-feira (09/01), na comunidade do Bongaba (Ilé Asé Ògun Alàkòrò), em Magé, na Baixada Fluminense, e reuniu gestores de saúde municipais, estaduais e federais. Para marcar o “Janeiro Roxo”, mês de conscientização e combate à doença, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) preparou um conjunto de ações programadas para 53 quilombos do estado. Em Bongaba, além de palestra e apresentação teatral, também foi prestado atendimento à população.  O evento foi organizado pela SES-RJ em parceria com a Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ) e a Secretaria Municipal de Saúde de Magé. 

O local, criado em 1696, foi escolhido por ser um importante território de resistência e participação popular. A campanha deste ano tem o tema: “Hanseníase não tenha preconceito, identifique, trate e cure”. Segundo dados do Ministério da Saúde de 2022, o Rio de Janeiro ocupa a 13ª colocação em taxa de detecção de novos casos de hanseníase no Brasil e 850 casos da doença estão em tratamento no estado. 

O gerente de hanseníase da Secretaria de Estado de Saúde, André Luiz da Silva, ressaltou o pioneirismo de um quilombo em abrir a campanha de conscientização e combate à hanseníase. “É a primeira vez no Brasil que uma campanha é lançada em uma comunidade quilombola. Isso tem relevância, pois eles têm tradição de engajamento, participação e saberes tradicionais. É uma troca de experiências, que permite uma adesão maior ao tratamento. São locais que apresentam dificuldade de acesso e precisam do poder público para que a doença não fique escondida”, relatou André Luiz da Silva. 

Pai Paulo José de Ogun, liderança do quilombo Ilé Asé Ògun Alàkòrò, disse que o território é um local de resistência, reparação, veracidade e história ancestral. No quilombo são ensinados gratuitamente jongo, maracatu, capoeira e curso de pré-vestibular para jovens carentes. 

O assessor Especial do Ministério da Saúde, Valcler Rangel Fernandes, ressaltou o compromisso da pasta em criar estruturas para que a União olhe para as periferias. Segundo ele, a construção deve ser coletiva para o enfrentamento da hanseníase e os quilombos são locais de grande potência. O evento também teve a participação da secretária municipal de Magé, Larissa Storte, entre outros. 

A aula magna foi conduzida por Egon Daxbacher, médico do Instituto Estadual de Diabetes Luiz Capriglione (Iede), consultor e dermatologista do Ministério da Saúde, e teve como ponto central a mobilização social. Ele destacou a participação de todos os entes da federação no enfrentamento à doença, além de dar voz e vez às comunidades. Houve também apresentação teatral do Grupo Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) e o rastreamento da doença com exame físico. 

Equipes fizeram visita domiciliar

Em dezembro de 2023, a gerência de Hanseníase da SES-RJ promoveu o treinamento de três equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) de Magé, que atuam nos três quilombos da cidade. Após o lançamento da campanha, aconteceu uma visita domiciliar a uma pessoa com a doença, feita pelas equipes do estado e do município. Foram feitos exames clínicos e testes rápidos em contatos (parentes) assintomáticos na Praia de Mauá. Todos tiveram resultados negativos. 

“Estou há 10 meses em tratamento da hanseníase. Os primeiros sinais apareceram nas pernas. Eram placas avermelhadas com caroços, que provocavam queimação. Depois, elas se espalharam por todo o corpo. Com a medicação, os sintomas diminuíram. Vou seguir com o tratamento, pois quero me curar logo”, explicou Celeste Teixeira de Oliveira, de 56 anos, que faz tratamento no Centro de Especialidades de Magé e recebe dose mensal de medicação supervisionada por equipe médica, além de receber visita de agente comunitário de saúde uma vez por semana em domicílio. 

Associada à pobreza e ao acesso precário à moradia, alimentação, cuidados de saúde e educação, a hanseníase ainda é uma preocupação no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com mais casos no mundo e o estado do Rio de Janeiro ocupa a 13ª colocação em taxa de detecção de novos casos de hanseníase no país.

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