/>
Jovens são vitimas de ação da polícia no Rio

Jovens são vitimas de ação da polícia no Rio

Jovens são vitimas de ação da polícia no Rio

Na última quarta-feira, 4 de junho, uma menina de 15 anos foi atingida por um tiro quando estava dentro de casa, em Nova Brasília de Valéria, em Salvador. Imagens da adolescente caída ao chão, com um sangramento na perna, na própria residência, rapidamente circularam nas redes sociais. 

Uma semana antes, em 26 de maio, Isaías, um adolescente de 14 anos, foi baleado no bairro da Fazenda Grande do Retiro, também em Salvador. O garoto voltava da escola quando foi atingido por um disparo que não era para ele. Os dois adolescentes seguiam suas rotinas quando foram atravessados pela violência armada durante operações policiais e isso acendeu um alerta em nossos analistas de dados. Eles perceberam um aumento de quase 40% no número de adolescentes baleados.

Os casos ilustram uma tendência cruel: adolescentes sendo vítimas de uma violência que não os tem como alvo direto, mas que os encontra em seus cotidianos. Voltando da escola, brincando na rua, dentro de casa. Não há local seguro quando a política de segurança pública prioriza o confronto em detrimento à proteção da população. 

Somente em maio, dez adolescentes foram baleados e esse é o maior número registrado, em um mês, desde que o Fogo Cruzado passou a monitorar a violência armada na Bahia, em julho de 2022. 

De janeiro a maio de 2025, registramos 33 adolescentes baleados em Salvador e região metropolitana. Desses, 14 foram atingidos durante ações ou operações policiais. Essa informação nos trouxe um novo alerta, pois o dado nos apresenta uma mudança significativa e preocupante no perfil da violência contra os adolescentes, já que no mesmo período de 2024 foram registrados 24 adolescentes baleados, nenhum atingido durante ações ou operações policiais.

A mudança revela como a escalada do confronto afeta diretamente os mais vulneráveis. As operações policiais que, em tese, deveriam proteger a população, se tornaram uma das principais ameaças aos jovens baianos. É uma inversão perversa quando o Estado, que deveria garantir segurança, se torna fator de risco.

As disputas territoriais entre grupos armados também contribuem para esse cenário de alta de adolescentes baleados. Se nos cinco primeiros meses de 2024 esse indicador se manteve zerado, em 2025 nosso banco de dados já registrou 13 vítimas nessas circunstâncias. 

O perfil racial das vítimas escancara outra dimensão do problema. Dos 33 adolescentes baleados, 19 tiveram a raça identificada e todos eram negros. Não é coincidência: é o reflexo de uma política de segurança que há décadas negligencia direitos em territórios de maioria negra. 

É nesse contexto que a Bahia, que ostenta o título de ter a polícia mais letal do Brasil, com 1.557 mortes por intervenção policial em 2024 — segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública — segue na contramão da informação. A Anistia Internacional revelou que, desde o fim de 2024, tenta acesso a informações básicas e que os dados de mortes por intervenção policial são incoerentes entre os sistemas federal, estadual e do Ministério Público. Juntos, o Instituto Fogo Cruzado, a Anistia Internacional e o Instituto Odara seguem cobrando respostas.

Enquanto o governo da Bahia esconde, nossos dados deixam claro o que acontece com os adolescentes baianos: são 164 baleados em Salvador e região metropolitana em nossa série histórica. A equação é simples: quanto mais letal a polícia, menos segura a população está.

É preciso reconhecer que cada adolescente baleado representa não apenas uma tragédia familiar, mas o fracasso de uma sociedade que normalizou a violência como método e política de segurança. Falta coragem política para admitir o óbvio: é impossível construir segurança pública sobre tantos corpos.

Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu