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Produção de saneantes cai 4,7% no semestre e queda pode aumentar com tarifaço de Donald Trump

Produção de saneantes cai 4,7% no semestre e queda pode aumentar com tarifaço de Donald Trump

Setor acende alerta contra mercado informal de R$ 3,5 bilhões
Produção de saneantes cai 4,7% no semestre e queda pode aumentar com tarifaço de Donald Trump
Inflação acelera em junho, confiança dos empresários despenca e desempenho do setor está entre os piores da indústria; avanço da informalidade ameaça saúde pública, assim como as tarifas impostas pelo governo norte-americano às exportações brasileiras, que podem afetar os pequenos fabricantes de produtos de limpeza.

Segundo informações levantadas pela ABIPLA — Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e Profissional, a fabricação de produtos de limpeza recuou 4,7% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com junho de 2024, a queda foi ainda mais acentuada, de 7,8%. A retração ocorre em meio ao aumento dos custos de produção e à redução do poder de compra das famílias, causada pela inflação.

“No ano passado, tivemos queda de faturamento e aumento na produção, justamente, pela migração para produtos formais mais acessíveis — mas que são seguros e atestados pela ANVISA — Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Este ano, a queda na produção indica outro cenário: o espaço que a indústria formal perde pode estar sendo ocupado pelo mercado informal, em que não existe controle sanitário”, afirma Jordana Saldanha, diretora-executiva da ABIPLA.

De acordo com a entidade, o mercado informal de produtos de limpeza movimenta cerca de R$ 3,5 bilhões por ano, no Brasil. Esses produtos não passam por avaliações técnicas nem seguem padrões de qualidade, podendo oferecer risco direto à saúde da população e prejudicando a arrecadação de impostos e a geração de empregos.

“A informalidade é um problema não só econômico e social, mas de saúde pública. Produtos clandestinos não seguem padrões mínimos de qualidade, podem ser ineficazes e até perigosos para quem usa, e ainda prejudicam empresas que atuam de forma responsável”, alerta Jordana. “Por isso, é fundamental intensificar as ações de fiscalização e conscientização para proteger o consumidor e garantir a concorrência leal.”

Vale lembrar que Jordana, recém-contratada como diretora-executiva da entidade, tem vasta experiência no setor químico, tendo sido gerente de comunicação do CFQ – Conselho Federal de Química, com o qual a ABIPLA desenvolve campanhas contra Misturas Caseiras de produtos de limpeza e em favor do uso responsável de produtos químicos. “Os saneantes regularizados são fundamentais para a saúde pública e é necessário alertar a sociedade sobre a importância de sempre adquirir produtos que foram aprovados pela autoridade sanitária. Caso não encontre o número de processo da ANVISA no rótulo do saneante, não utilize.”

Cenário econômico mostra confiança em queda

Dentro deste cenário de queda na produção, o ICEI Setorial – Índice de Confiança do Empresário Industrial do setor caiu de 51,3 pontos em junho para 46,8 em julho, a maior retração da indústria da transformação, perdendo apenas para “produtos diversos”. O indicador abaixo de 50 pontos sinaliza pessimismo entre os empresários.

Além disso, em junho, a inflação dos produtos de limpeza, medida pelo INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor, avançou 0,6%, ficando acima da inflação geral (0,23%). No acumulado de 2025, no entanto, o aumento de preços no setor (+2,83%) ainda é menor que a média geral (+3,08%), “mas a pressão de custos preocupa, tanto empresários como consumidores”, alerta Jordana Saldanha.

Tarifaço e posicionamento da ABIPLA

Jordana também comenta sobre os impactos da política dos EUA, que, recentemente, aumentaram a alíquota de importação de produtos oriundos do Brasil. A entidade realizou um estudo sobre os principais destinos de exportação brasileiros, além da origem dos produtos importados. No levantamento, os EUA apareceram com grande superávit comercial no setor, com quase US$ 80 milhões em exportação para o Brasil em 2025 (janeiro a junho) e US$ 5,3 milhões em importação de saneantes e produtos fabricados no Brasil.

“Embora as exportações para os EUA sejam tímidas, somando cerca de US$ 5,3 milhões até junho deste ano, o que os coloca como o 8º maior parceiro comercial do Brasil em 2025, a medida pode afetar de forma grave o dia a dia de pequenos fabricantes de produtos de limpeza. Vale lembrar que, no setor de saneantes, mais de 96% das companhias são micro e pequenas empresas, muitas delas especializadas em nichos e mercados específicos. Estamos monitorando a situação, mas é importante que o governo brasileiro siga na estratégia de buscar a conciliação com os EUA e que o país busque novos acordos comerciais bilaterais e multilaterais com parceiros de outras regiões. A indústria brasileira de saneantes tem condições de aumentar sua presença como exportadora”, afirma Jordana Saldanha.

Sobre a ABIPLA

Fundada em 1976, a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (ABIPLA) representa os fabricantes de sabões, detergentes, desengordurantes, produtos de limpeza, polimento e inseticidas, promovendo discussões sobre competitividade, inovação, saúde pública e consumo sustentável. O setor movimenta US$ 7,2 bilhões anuais e responde por, aproximadamente, 93 mil empregos diretos.

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