Essa tragédia no zoológico reacende a discussão sobre a necessidade de estruturação de políticas de saúde mental. Seria uma tragédia anunciada?
Uma coisa é certa: mais um fim trágico de uma dor que ninguém viu. Uma dor que tem nome: “adoecimento emocional”.
A Esquizofrenia é uma condição clínica que precisa de acompanhamento regular, de acolhimento, de suporte social ou familiar. E fica o alerta: estamos nos tornando um exército de adoecidos emocionais. O número de pessoas com saúde mental debilitada, já é assustador e ainda, em pleno século XXI, esbarramos em preconceitos e tabus.
Além disso, a vulnerabilidade e o desamparo, essa doença mental se apresenta da forma mais comum que é a demência. No Brasil, estima-se que há cerca de 1,8 milhão de esquizofrênicos. Mas, o número de casos aumenta assustadoramente, principalmente entre jovens e crianças, e segue afetando a vida adulta, comprometendo o equilíbrio emocional do indivíduo. No entanto, como existem muitos estigmas em relação à doença, pouco se fala sobre as causas, os sintomas e tratamentos.
Ou seja, a falta de informação e compreensão em relação aos episódios esquizofrênicos, entre pacientes e familiares, tende a demorar a busca pelo acompanhamento adequado.
É uma desordem cerebral que deteriora a capacidade das pessoas para pensar, dominar suas emoções, tomar decisões e relacionar-se com os demais. As causas desse transtorno mental não se resumem a um único fator. Cada pessoa pode vivenciar situações diversas ao longo da vida que poderão servir de gatilho, como por exemplo: desnutrição materna e depressão pós-parto; gravidez indesejada; crescimento anormal do feto; perdas emocionais fortes e precoces; histórico de abusos físicos e mentais; repetitivas experiências psicológicas negativas; abuso de substâncias; histórico genético, entre outros.
Por ser uma doença psiquiátrica, ela provoca alterações na forma de pensar, sentir e se comportar socialmente, devido a desconexão frequente com a realidade. Se manifesta alterando a percepção do indivíduo e seu comportamento, através de dificuldades motoras, desconfiança excessiva e diminuição da produtividade, além de mudanças da própria perspectiva e pensamentos abstratos.
Isso acontece porque existe uma ruptura com a vida de forma geral. Porém, não é uma doença incontrolável ou um atestado de insanidade para o resto da vida. Como o estigma que o nome do transtorno carrega é grande, infelizmente, na maioria dos casos, é o seu círculo social que se recusa a acolhê-los, intensificando os episódios de surtos e alucinações.
Enfim, uma história de dor que poderia estar sendo contada de outra forma, se a Esquizofrenia fosse acolhida de maneira diferente. Afinal, ela se cura não só através do auxílio da medicina, mas principalmente, através da informação, do atenção e do estímulo de contato do paciente com o mundo externo, sem preconceitos ou julgamentos. Uma vez que, se sente integrado, o esquizofrênico pode ter ainda mais chances de aprender a lidar com a confusão mental e corresponder às interações a seu redor.
| A Dr.ᵃ Andréa Ladislau é psicanalista. — Foto: divulgação |
A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o jovem por quase dez anos, disse que o fim foi brutal: “foi construído ao longo de anos de negligência”.



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