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A demissão pode ser uma alternativa de crescimento na carreira profissional

A demissão pode ser uma alternativa de crescimento na carreira profissional

Pode parecer paradoxal, mas deixar um emprego pode ser uma atitude que pode impactar definitivamente e de maneira significativa, a carreira profissional. O que pode parecer uma incongruência na realidade é uma enorme oportunidade de crescimento. Muitos especialistas dizem que a autogestão é um talento importantíssimo na vida profissional.  Saber a hora certa de alçar voo e buscar uma alternativa na carreira é fulcral para o sucesso.

O que mais vimos e ouvimos no final de 2024, foram reflexões acentuadas sobre a finitude da vida, sobre paz e felicidade. O Natal e a virada de ano sempre evocam esses mergulhos mentais.  Em dezembro estamos todos esgotados.

A lei brasileira confere o direito às férias e o repouso semanal remunerado para atenuar o cansaço. Mas para além do cansaço físico, existe um cansaço maior, o mental. O trabalho que confere sentido à vida, pode também tirar. Pode se tornar fardo e um lugar de desassossego.

O Brasil, pasmem, registrou um recorde histórico de pedidos de demissão em 2024, com quase 8,5 milhões de trabalhadores deixando seus empregos de forma voluntária. O levantamento é da LCA Consultoria Econômica, com dados do Ministério do Trabalho, e foi divulgado pelo Jornal Nacional.

Fato é que os brasileiros estão cada vez menos acomodados e já se percebem com uma nova visão de realidade: a demissão pode ser salvação. Ao invés de eternizar no mesmo local de trabalho, poluído, tóxico ou numa empresa que não valoriza e descumpre a Lei, muitos trabalhadores têm partido para uma inovação fundamental no mundo do trabalho. Eles pedem demissão e sequer cogitam de rescisão indireta (modo de demissão por culpa da empresa).

Hoje, a metáfora central do trabalho é que não adianta fazer um remix naquele lugar ou naquela posição na qual não se pode esperar mais nada. Se antes o argumento de vida era que emprego não se larga, hoje o pensamento dominante é que o trabalho pode ser uma cova. Uma nova abreviatura surgiu: “não quero e não preciso  mais”.

Se antes, o medo da demissão assustava, hoje os trabalhadores estão muito mais despojados.

Para muitos o ritual de passagem de uma vida profissional infeliz, para um lugar novo e que confira mais sentido; por livre arbítrio tem se tornado um fato  mais corriqueiro. Com fortes as pessoas estão pondo limites aos desvios e ataques à dignidade, desigualdades e ilegalidades e pedem demissão para estacar esses comportamentos tóxicos.

Se de um lado temos um sistema econômico descontrolado que precariza milhões de postos de trabalho, de outro temos um consenso social e reagente, o trabalho tem que sentido.

Assim, muitos começam vida nova, carreiras inéditas e partem para uma nova etapa vivencial. “Eu sei que com a carteira que eu tenho e esses clientes, posso tanto ser dona do meu passe; como sair daqui.”, afirmou M. “O que não quero é passar a vida reclamando e olhando o tempo passar, nesse lugar que não me valoriza e onde sofro só ataques.” Já João, também se explica: “a gente é o gestor da nossa trajetória profissional, que no fundo é um tipo de casamento; chega um momento que é hora de sair de casa”.  “Quero pedir demissão e nem olhar para trás “. E assim tem sido.

Além disso, as pessoas costumam sentir que o trabalho não tem sentido e que mesmo bem remuneradas, determinados trabalhos colidem com a paz, com os limites éticos e com o ideal de ter uma carreira que confira, além de estabilidade, crescimento profissional.

Nota-se que algumas práticas em vigor, como a gestão por metas, meritocracia, assédio, alienação e outras formas negativas de gestão, levam de um estado a outro.

É como uma imigração.  “No começo parece que tudo vai bem, depois tudo parece desregulado”.

Freud dizia que aquele que permanece prisioneiro do passado, será sempre incapaz de fluir e agir. Isso significa que a nostalgia tem um peso muito maior sobre a vida profissional, quando não a reconhecemos.  E a eternização dos vínculos laborativos está retrofitada: hoje ninguém fica onde não quer, por medo. Viver sem vida, para manter um emprego ruim é passado.

O mantra foi revisitado: “é preciso mudar de emprego para se mudar de vida”.

Maria Inês Vasconcelos Rodrigues de Oliveira, advogada fundadora do escritório Maria Inês Vasconcelos e Advogados Associados, escritora e professora.

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