Como a eleição de Donald Trump pode afetar os preços de eletrônicos no Brasil
A eleição do empresário Donald Trump como presidente dos Estados
Unidos pode impactar diretamente nos preços de eletrônicos no Brasil. A
vitória do bilionário de respostas ácidas que já alfinetou a Apple
assusta economistas brasileiros por conta da alta da moeda
norte-americana e que, consequentemente, poderia causar o aumento nos
preços dos gadgets por aqui.
O valor do dólar influencia?
Uma das principais questões econômicas relacionadas a vitória do
candidato conservador se dá por conta do dólar. A previsão dos
economistas é de que a moeda americana valorize perante ao real,
principalmente em um primeiro momento, como no pregão desta quarta-feira
em que o dólar chegou a valorizar 2,45% ante o real.
Em entrevista ao portal
A Tarde, o
economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, alterou sua
previsão inicial de que o dólar chegaria na casa dos R$ 3,30 para R$
3,60 até o final do ano. Com o valor de importação maior por conta do
câmbio, é previsivel que o valor dos eletrônicos fabricados nos Estados
Unidos aumente em terras tupiniquins.
No entanto, toda regra tem sua exceção e exemplo disso é o preço dos
últimos iPhones lançados no Brasil e que sofreram redução apesar do
aumento do dólar nos últimos anos. Mesmo com a moeda norte-americana
custando consideravelmente mais do que em novembro de 2014, época de
lançamento do iPhone 6, o novo smartphone da Apple, o iPhone 7, chegou
ao mercado brasileiro custando menos.
Em 6 de novembro de 2014, data em que o iPhone 6 teve seus valores
revelados no Brasil, a moeda americana estava avaliada em R$ 2,55. Já em
4 de novembro de 2016,
dia em que os valores do iPhone 7 foram divulgados oficialmente,
o dólar fechou em R$ 3,23. Na versão de 128 GB de ambos os telefones, o
iPhone 7 chegou ao Brasil a partir de R$ 3.900, enquanto o iPhone 6
desembarcou custando R$ 4.000. A expectativa, contudo, é de que essa
prática dificilmente se repita.
Para o economista Alexandre Prado, a vitória de Trump nas urnas pode
favorecer o livre comércio entre os países o que, em tese, beneficiaria o
Brasil.
O especialista em finanças diz que o resultado da medida poderá
surpreender, já que "Ao acelerar a economia e atividade industrial
norte-americana, o desejo, então, será de escoar a produção para
parceiros comerciais, como o Brasil". Por essa razão, é possível que os
preços baixem. Contudo, o aumento da moeda norte-americana pode gerar o
efeito contrário.
Produção caseira
Um dos fatores que poderia encarecer o preço de eletrônicos no Brasil
seria o desejo do bilionário em repatriar a produção de eletrônicos. Na
época em que ainda era candidato,
o
republicano disparou críticas pesadas contra a Apple pelo fato da
fabricante do iPhone concentrar a produção de seus produtos em países
como China e Vietnã.
“Nós vamos fazer a Apple construir os seus 'malditos' computadores e
coisas neste país, em vez de outros países”, afirmou Trump no início
deste ano. “A Apple e todas estas grandes empresas terão de fabricar
seus produtos nos Estados Unidos e não na China ou Vietnã”, disse na
época.
A declaração do então pré-candidato que viria a derrotar 16
pleiteantes republicanos na corrida partidária, entre eles nomes
tradicionais como Jeb Bush e Ted Cruz, fez com que o professor Jason
Dedrick, da Syracuse University lembrasse ao
Wired os fatores que fazem a Apple fabricar seus produtos no exterior.
Segundo explicou, a empresa não terceiriza a fabricação em um único
fornecedor de um único país, mas conta com uma vasta e complexa cadeia
de fornecedores. Além disso, o próprio equipamento de fabricação dos
dispositivos custa bilhões de dólares. Juntos e, considerando o valor da
mão de obra, essas circunstâncias permitem que a Apple consiga reter
mais 60% no valor de cada smartphone comercializado.
Caso isso mude, além da empresa da maçã, Microsoft e Google também
podem ter que se ajustar à “política de produção patriota” de Trump.
Invasão chinesa ao Brasil
Outro fator relevante da vitória de Trump está ligado ao mercado
chinês. Líderes do país asiático não enxergam a vitória do republicano
com desespero, mesmo após o empresário ter dito que pretende criar novas
tarifas de importação de produtos, principalmente chineses como parte
do plano de incentivar as empresas a produzirem nos Estados Unidos.
“Eles (A China) tem que entender que nós não estamos de brincadeira”,
declarou o bilionário em agosto, quando questionado sobre as tarifas
para os produtos chineses. Esses impostos poderiam chegar a 45% do valor
das mercadorias.
Para a China, Trump é um empresário pragmático e as políticas
proteccionistas prometidas em sua campanha poderiam também afetar
negativamente a economia norte-americana. O governo chinês espera manter
a, apesar de alguns problemas, boa relação comercial com os Estados
Unidos.
E, se por um lado é possível que os produtos chineses encontrem maior
dificuldade para se estabelecerem nos Estados Unidos, por outro é
plausível considerar que a China possa intensificar o comércio de
eletrônicos no Brasil, ainda mais se o valor dos produtos
norte-americanos aumentar. Atualmente a China é o maior parceiro
comercial do Brasil. Uma maior competição entre os produtos chineses por
aqui poderia favorecer o consumidor.
"A
atividade econômica chinesa continua robusta e necessita de canais para
escoar seus produtos. O Brasil, assim como outros países do BRICS, é o
destino natural das exportações chinesa", lembra Prado ao explicar que a
China pode olhar com mais atenção para o Brasil em um futuro próximo.