No futuro, será possível prever o estouro de protestos ou até antecipar
revoluções "medindo" o conteúdo das redes sociais. É o que afirma o
cientista, médico e sociólogo Nicholas Christakis, 52, PhD em Medicina
por Harvard e diretor do Laboratório da Natureza Humana da Universidade
Yale.
Suas pesquisas investigam como agimos em rede, não apenas na internet.
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Paul Schnaittacher/Divulgação |
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O sociólogo americano Nicholas Christakis |
"Mas não copiamos tudo que vemos na internet ou na TV. Os laços sociais
são muito mais importantes. Quando temos liberdade de escolha, copiamos
nossos amigos".
Ele recebeu a Folha em Yale e falou como fenômenos sociais se espalham
–de linchamento e difamação na internet à obesidade e o abandono do
fumo. Veja trechos da entrevista.
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MANADA NA REDE
Essa justiça de milícias, feita com as próprias mãos, pode se repetir
assim como os suicídios. Quando um adolescente se suicida, é comum
outros adolescentes que tiveram contato com essa notícia cometerem
suicídio. É um fenômeno das redes.
Quando você me fala de pessoas que amarraram um assaltante contra um
poste, claramente a maneira simbólica de fazer justiça se espalhou. É o
efeito manada na rede social. Isso me lembra os julgamentos das bruxas
de Salem nos EUA no século 17 ou a justiça cometida pelos talibãs no
Afeganistão.
Mas nem tudo que vemos na TV copiamos em seguida. Os laços sociais, o
que nossos amigos fazem, têm um peso muito maior do que é visto pela TV.
COPIAR OS AMIGOS
A conexão profunda é com outra pessoa. As redes on-line são boas para
disseminar informação, mas se um amigo seu decide ir pra rua, é mais
possível você querer segui-lo. A mídia on-line não é tão eficiente em
mudar comportamentos.
Um grande amigo tem mais peso em influenciar você para ver um filme,
mais do que qualquer propaganda. Interações sociais são bem mais
importantes, têm mais peso do que aquilo que você vê na internet. Quando
temos liberdade para fazermos o que quisermos, copiamos outros.
BOLHAS
A tecnologia moderna facilita que sejamos amigos de pessoas que são
exatamente como gostamos. Em uma sociedade mais fragmentada, posso só
interagir com quem fala de futebol ou só assiste Fox News.
Tornamo-nos mais seletivos, esse é um problema. Na rede é mais fácil criar bolhas e reduzir a variedade nas nossas vidas.
OBESIDADE 'CONTAGIOSA'
Existe o efeito da viuvez. Há 150 anos se estuda o chamado "morrer de
coração partido". A probabilidade de morrer quando se perde o parceiro
ou a parceira de muitos anos duplica no primeiro ano para viúvos e
viúvas.
Mas isso não é restrito a maridos e esposas e, sim, a vários pares de
pessoas, que podem ser irmãos ou amigos, com conexões muito fortes.
Usamos matemática e diversos graus de separação e descobrimos que a obesidade se espalha em "clusters".
A possibilidade de ser obeso é 45% maior se o seu melhor amigo é obeso e
25% maior se é amigo de amigos obesos. Para laços de terceiro grau, a
chance cai para 10%. Trabalhamos com diversas hipóteses –de hábitos
parecidos, de gente que se aproxima por se parecer.
ANONIMATO
Os ataques on-line e a agressividade dos comentários da internet me
fazem lembrar do Carnaval, dos bailes de máscaras. O anonimato permite
que as pessoas façam coisas que ordinariamente não fariam. O mundo
digital desinibe as pessoas para o bem e para o mal.
ESPALHAR BONS HÁBITOS
Estamos usando essas ferramentas em testes em Yale para descobrir como
se espalha a inovação. Desde como fazer médicos prescreverem menos
antibióticos a como fazer com que mais gente queira abandonar o fumo.
Você mapeia redes sociais e vê quem são os líderes, quem as pessoas
seguem. Em redes off-line, face a face, isso funciona muito mais.
Queremos descobrir como reduzir a violência para fazer projetos de
intervenção em áreas de muita criminalidade.
Como qualquer tecnologia, isso pode ser usado para o mal –as redes podem
fazer as pessoas comprarem mais produtos sem necessidade.
PREVER PROTESTOS
No futuro governos poderão prever, sim, quando protestos, revoltas e
greves acontecerão. É assustador imaginar esse uso, já que algumas
dessas descobertas podem ser usadas para suprimir a liberdade também e
tentar interromper as greves.
Fonte: Folha de São Paulo