Estamos para escolher quem nos governará. Entre as escolhas está a de
quem presidirá a República.
A direção da República é a direção dos
rumos do Brasil. O Brasil, com ou sem tropeços, é a pátria amada. Mas
parece que não gostamos dele. Penso assim: detestamos nossos políticos,
contudo, elegemos nossos detestados políticos para que administrem a
nação. Se coloco alguém que odeio para dirigir algum lugar, não devo
gostar deste lugar, pois não? Logo, se ponho um político que detesto
para dirigir meu país, devo odiar meu país. Não concebo como poderia me
justificar com ambas as coisas ao mesmo tempo.
Talvez me contra
argumentem, dizendo que votamos porque somos obrigados a fazê-lo. É uma
hipótese bem aceitável, pois, afinal, em algumas eleições, logo após a
votação, cerca de três quartos dos sufragistas já não sabem em quem
votaram. Creio que não gostamos de política, ou estamos enfastiados da
incompetência dos nossos políticos. Ou talvez, desconfiemos de tudo
isso. Eu desconfio, e já começo desconfiando do sentido mesmo da Justiça
Eleitoral. Quer dizer, eu suspeito do modo e do lugar pelo qual a coisa
política transita antes de se situar como poder.
Não conheço
outro país em que as eleições sejam administradas por uma Justiça
Eleitoral, esse aparato enorme, caro, sem sentido, unicamente
brasileiro. Isso é tão estranho que a Justiça Eleitoral faz propaganda
de si mesma, justificando-se e a seus gastos, vendendo a utilidade de um
sistema de vigilância sobre o votante equivalente ao de uma agência de
espionagem. O site do TSE anuncia que “o Tribunal começou em 2010 a
implantar a votação com urna biométrica, que elimina inteiramente a
possibilidade de alguém, usando documentos falsos, votar em lugar de
outra pessoa” .
É
mesmo? E será que este é o problema? Todo este aparato deve se voltar,
mesmo, a vigiar o eleitor? Ora, essa mesma Justiça leva anos para julgar
um político que se elegeu indevidamente e, muitas vezes, quando
acontece a decisão judicial ela já não tem mais nenhum sentido prático.
Quantos políticos vão de eleição a eleição com o mandato debaixo de
julgamento? Quantas multas insignificantes são aplicadas por práticas
ilícitas, e cobradas quanto tempo após? Quantos sabidos caixas-dois são
estourados?
Os custos de troca, a cada eleição, dos sofisticados
sistemas de votação são injustificáveis. Todo esse sistema de urna
eletrônica é uma parafernália caríssima e voltada a desconfiar do povo,
num exagero sem precedente no mundo. Já as contas bilionárias das
campanhas eleitorais são submetidas a processos tradicionais, como se
fosse normal gastar-se numa eleição o que se lê nos jornais. Às vezes me
pergunto: será que alguém está lucrando muito com toda essa negociação
dessas maquininhas desnecessárias?
Se me for dito que exagero,
respondo com a Wikipédia: “A partir de 2001, mais de 50 países enviaram
representantes para conhecer a urna eletrônica brasileira e vários
países da América Latina utilizaram, em eleições oficiais, prévias
partidárias, ou simulações, os equipamentos brasileiros: Paraguai,
Argentina, México, Equador e República Dominicana. Depois destas
experiências, nenhum deles adotou o modelo do equipamento brasileiro,
pois decidiram que o sistema não é seguro o suficiente”.
Eu, particularmente, não confio na utilidade da máquina, na fabricação
da máquina, na compra da máquina, no preço da máquina, na utilização da
máquina. Não confio na própria máquina, afinal.
Não sei com que
cuidado as cidadãs e os cidadãos acompanham a publicação dos gastos
orçados pelos diversos candidatos em todos os níveis. Estão aí nos
jornais. São números enormes. Esses valores vêm de doações feitas por
empresas, e grande parte dessas empresas, depois, vai ser empreiteira lá
nas obras governamentais, numa relação escandalosamente promíscua. Para
a Justiça Eleitoral, contudo, nos seus prédios suntuosos, com juízes
ganhando mais que deputados (nossos juízes tem os ganhos mais elevados
do mundo), tudo isso é normal e legal. Sim, eu também desconfio de
muitos políticos, contudo, antes e mais, desconfio do sistema legal que
permite tudo isso. E tudo isso é coisa demais.