Sindicato atribui violência em escolas a ausência dos pais
Em pesquisa com 2,1 mil pessoas, falta de segurança foi apontada como principal problema do ensino no Estado de São Paulo
Violência na escola, turmas sem professor, alunos que passam de ano sem
aprender o conteúdo, baixa remuneração dos professores e pais longe das
reuniões na escola compõem a realidade da educação estadual paulista.
Em pesquisa divulgada pelo Data Popular nesta semana e encomendada pelo
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
(Apeoesp), o panorama da educação estadual foi descrito a partir das
entrevistas com 700 alunos, 700 professores e 700 pais de estudantes.
Entre os principais problemas da educação estadual paulista apontados
entre as categorias pesquisadas, a falta de segurança aparece em
primeiro lugar para 32% dos professores, 37% dos pais e 25% dos alunos.
Dos alunos, 44% não se sentem seguros dentro das próprias escolas. O
número entre os professores é de 18%. Demonstrando a insegurança na
comunidade escolar, 57% dos professores, 78% dos pais e 70% dos alunos
consideram a sua própria escola violenta. Em segundo lugar na lista de
problemas, os pais (14%) e os próprios alunos apontam o desrespeito com
os professores (23%).
Para a presidente do sindicato, Maria Izabel Azevedo Noronha, um dos
motivos da crescente violência na escola é a ausência dos pais, pois os
professores encontram dificuldades em discutir o comportamento dos
filhos. “A pesquisa não culpa ninguém, mas vem para mostrar que o
ambiente escolar precisa mudar. A violência lidera os motivos para a
baixa qualidade do ensino em São Paulo. A presença da ronda escolar pode
ajudar muito, pois é uma segurança com o que acontece no entorno da
escola. Além disso, equipes multidisciplinares são importantes para
lidar com os conflitos dos alunos. É preciso uma melhor política pública
nessa sentido”, afirma.
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo “entende que o
enfrentamento à violência deve ocorrer em diversas frentes, que
englobam polícia, comunidade escolar e família", acrescentando que "a
pasta conta com 2.688 professores especializados em prevenir conflitos”.
46% dizem que passam de ano sem aprender
Quanto ao papel da escola, 48% dos pais acredita ser formar cidadãos,
enquanto 36% dos alunos pensa que seja ensinar o conteúdo das
disciplinas. Contudo, poucos consideram que a escola cumpra esses
papéis: apenas 11% dos pais acham que a escola forma cidadãos, e só 14%
dos estudantes acreditam que a escola ensina o conteúdo. A pesquisa
ainda aponta que 46% dos alunos dizem ter passado de ano sem aprender a
matéria, e apenas um em cada três consideram a escola boa ou ótima.
Entre pais, 50% consideram a escola boa ou ótima.
A progressão continua aplicada na rede estadual de São Paulo é apontada
como o motivo dos alunos serem aprovados com baixo desempenho: 63% dos
professores é contra a forma como o sistema vem sendo aplicado; 94% dos
pais e 75% dos alunos também são contrários ao modelo.
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo afirma que,
caso o número de faltas do aluno seja excedente, ele não será aprovado
em nenhuma série, e ressalta a mudança nos ciclos implementada neste
ano: “O modelo foi aperfeiçoado no final do ano (2013) e as
possibilidades de retenção foram ampliadas, permitindo que eventuais
defasagens de conhecimento sejam corrigidas mais prematuramente. Além
disso, a Secretaria atua no acompanhamento e avaliação permanentes para
melhor aprendizagem. Todos os 4 milhões de alunos são constantemente
avaliados, recebem boletins escolares bimestralmente e podem optar por
pelo menos quatro diferentes modalidades de recuperação”.
Remuneração docente
A baixa remuneração dos professores foi citada por eles mesmos na
pesquisa como razão do excesso de trabalho, já que 50% deles precisam
trabalhar em outra escola para complementar a renda, sendo que 40%
trabalham em outras redes de ensino. A maioria dos pais concorda com os
docentes: apenas 20% deles consideram o salário dos educadores ótimo ou
bom. Ainda em nota, a Secretaria de Educação afirma que uma política
salarial irá conceder, até julho deste ano, um aumento escalonado de
45%. Hoje a rede paga R$ 1.950,40 a professores de nível médio e a
partir de R$ 2.257,84 a docentes com ensino superior (40 horas).
Segundo os alunos entrevistados, em média, eles ficam sem aula por
falta de professor seis vezes ao mês, e 64% indicam que, quando a falta
ocorre, o horário não é preenchido por um profissional substituto.
Maioria dos pais não comparece à escola
Cerca de 80% dos pais dizem estar presente na vida escolar dos filhos.
Porém, apenas 26% dos professores afirmam que os pais comparecem às
reuniões da escola; 70% dos pais entrevistados admitem nunca ter ido a
uma reunião do Conselho da Escola, mas justificam o fato por não ter
abono de falta no trabalho. Apenas 5% dos pais afirmam conhecer o
projeto pedagógico da escola. Além disso, alunos admitem faltar a escola
cerca de cinco vezes por mês, mas seus pais acreditam que faltam apenas
duas vezes. “Nós, docentes, não nos sentiríamos fiscalizados (com a
presença dos pais na escola), pelo contrário. Os pais querem que a
escola, além de passar os conteúdos, forme cidadãos, mas limitam a sua
participação às reuniões de notas. O acompanhamento maior por parte
deles ajudaria muito na qualidade do ensino”, afirma Maria Izabel.
Melhorias no ambiente escolar
As respostas de estudantes e pais aos questionamentos sobre melhorias
na educação apontam uma necessidade de modificação do método de ensino,
tornando a escola mais atraente. Como formas de melhorar a educação
estadual paulista, foram apontadas mudanças na infraestrutura escolar,
atividades extracurriculares, como cursos, palestras e eventos, além de
novos método de ensino e formato das aulas. Pais e alunos apontaram como
principal solução as atividades curriculares, 39% e 29%,
respectivamente. Os professores (22%) apontaram em primeiro lugar a
infraestrutura como principal melhoria.
Em relação à infraestrutura, a secretaria informou que, em reformas de
manutenção, ampliações e melhorias, no ano passado, foram investidos R$
900 milhões em 2.696 intervenções nas escolas estaduais. Em 2014, o
Estado já conta com 394 obras de novas escolas em andamento, que vão
gerar 130 mil vagas aproximadamente, de acordo com o órgão. Há ainda
1.422 obras em andamento, como reformas, ampliações e coberturas de
quadras.
Maria Izabel acredita que as escolas devem ser mais atrativas, com
material didático pedagógico, espaços de acessibilidade. Cerca de 62%
dos alunos gostam de ir à escola, mas o formato das aulas os desestimula
e o espaço escolar acaba virando sinônimo de violência. “Não existe
justificativa para a violência. Devemos aproveitar dados de pesquisas
como essa para alterar desde o projeto arquitetônico das escolas,
incluindo mais tecnologia nas salas de aula, para aumentar a
participação dos estudantes. Eles querem participar. Mas querem
participar de uma escola diferente."