Desobediência civil, greves, protestos e manifestações têm-se tornado
práticas cada vez mais aceitas no cotidiano. Seria esse o modo de
conseguir algum resultado? Será que os bons fins justificam esses meio
por vezes até ilegais? O que a Bíblia ensina acerca desses iniciativas
para alcançar um determinada meta? Que lugar, se é que houve algum ,
tiveram procedimentos como esses na vida de nosso Senhor e na dos homens
de Deus na Bíblia?
A marca que caracterizou a vida do Senhor foi a obediência. Ele sempre
fez a vontade daquele que o enviou a este mundo. Quando criança, era
sujeito a seus pais. Na ocasião do batismo de Jesus, bem no início de
seu ministério público, Deus testificou da perfeição dos trinta anos de
vida dele, dos quais nós tão pouco sabemos, declarando publicamente o
prazer que tinha em seu Filho. Em resumo, nunca encontramos na Bíblia a
palavra
“desobediência” associada à pessoa de Cristo. (Veja: Jo 8.29; Lc 2.51; Mt 3.17)
A Presença do Senhor atraía multidões. Essa atração se devia ao que ele
ensinava, a seus milagres de cura e à satisfação da fome. Jesus era bem
organizado e sempre estava no comando. Por exemplo, quando determinou
que a multidão faminta se sentasse em grupos de cem e de cinqüenta para
ser alimentada. Seus modos impunham o respeito da parte do povo. Até
seus inimigos reconheciam que ele tinha controle sobre as multidões e
pediram que repreendesse aqueles que clamava Hosana quando teve sua
entrada triunfal em Jerusalém. (Veja: Mt 4.25; Mc 1.32; Jo 6.26; Mc
6.40; Lc 19.39)
Acusado pelos inimigos de ser um agitado do povo na Judéia e Galiléia,
foi declarado isento de culpa pelas autoridades supremas, o governador
romano Pilatos e o judeu, o rei Herodes. Jesus nunca organizou greves,
manifestações, protestos, greves, nem outras demonstrações de
desobediência civil entre os seus seguidores. Em suas pregações e
ensinamentos, vemos justamente o oposto: seus seguidores forma
conclamados a submeter-se, não resistir, a maus-tratos e injustiças, a
ir além do que lhes era exigido, a amar em vez de odiar os seus inimigos
e a dar
“a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Veja: Lc 23.5-15; Mt 5.39-44; Mc 12.17)
Ao estudar o livro de Atos, observamos os apóstolos e os cristão
primitivos continuando nesses padrões de obediência ensinados pelo
Senhor. No dia de Pentecostes, os apóstolos valeram-se das
circunstâncias miraculosas para proclamar o evangelho a uma grande
multidão. Pedro expôs poderosamente às pessoas a maldade que
evidenciaram ao crucificar o Senhor. Então o coração delas se compungiu,
e perguntaram:
“Que faremos?”. Pedro as conclamou a
separarem-se da geração perversa que tinha matado Jesus. Como deviam
fazer isso? Organizando um manifestação de protesto no templo ou em
frente do palácio do sumo sacerdote ou do quartel-general do governador
romano? Não, mas deviam deixar-se batizar em nome de Jesus Cristo,
identificando-se publicamente com ele, para a remissão de seus pecados.
Uma multidão de três mil pessoas, número 24 vezes maior que o grupo
inicial de cristãos, respondeu imediatamente à instrução. ( Veja: At
2.14-41)
No final de Atos 2 e capítulos seguintes vemos que esses novos
convertidos eram um povo separado. Eram diferentes,, porque todo o seu
manancial de vida tinha sido renovado. Vemos vínculo de amor, separação
da nação judaica, imenso poder e influência espiritual, ousadia que
desafiava as autoridades religiosas e profundo respeito pelas pessoas em
geral. Vemo-los também sofrendo perseguição. São dispersos e, em
conseqüência, o movimento cresceu e expandiu. Nada disso foi alcançado
mediante nenhum movimento de protesto cuidadosamente organizado. Também
não lemos que tivesse havido algum protesto por causa do apedrejamento
de Estevão e da perseguição que veio em seguida. Não, tudo foi obra do
Espírito Santo, que até se fez valer de muitos que originalmente eram
opositores e de seus mais conhecidos perseguidores. ( Veja: At 2.24;
5.13; 4.1-3; 5.40,41; 7.57-8.33; 8.4; 11.19-21; 6.7; 1Tm 1.12,13)
Ainda no livro de Atos, vemos o cristianismo se dispersar além das
fronteira originais dos judeus para outras localidades do Império
Romano. Mas, embora um grande número de não-judeus também tenha sido
alcançado por sua mensagem, seu caráter e métodos não mudaram. Seus
seguidores continuaram a pregar o evangelho com poder espiritual e
resultados. Se houve alguma manifestação ou protesto, ou numa dada
ocasião houve até alguma greve de fome, isso procedeu da parte de seus
oponentes e nunca produziu bons resultados. No livro de Atos vemos,
outra vez, um funcionário público testemunhando expressamente que os
cristãos não recorreram a essas táticas. (Veja: At 11.19; 16.12; 28.23;
18.8-11; 19.19,20; 23.12; 16.19-24; 17.5-8; 18.12-17; 19.23-34,37)
Esse não era somente o procedimento, mas também o ensino deles. Os seus
líderes de destaque, Pedro e Paulo, ambos recomendaram enfaticamente a
sujeição às autoridades em governo, mesmo que isso, por fim, acarrete
sofre injustiça, como Pedro nos dá a entender. Ele, porém, prossegue
dizendo que Cristo igualmente sofreu por nós, deixando-nos exemplo para
que seguíssemos os seus passos. Tanto Pedro quanto Paulo descrevem as
responsabilidades desses que Deus coloca me posição de autoridade. Paulo
enfatiza que não há ninguém no governo que não tenha sido aí colocado
por Deus. As autoridades são ministros de Deus com poder de vida e de
morte. Elas podem não desempenhar suas obrigações dadas por Deus, mas
isso de modo algum isenta os cristãos de cumprir as suas. Não há nenhuma
indicação de que o cristão deve recorrer a algum ato publico para
influenciar o governo a mudar seus métodos e planos de ação. O propósito
divino é que, mediante a vida piedosa, os cristãos façam emudecer as
difamações e calúnias que são proferidas contra eles no mundo. Outro
aspecto enfatizado é a importância de os cristãos estarem oração a favor
dos reis e daqueles que se acham investidos de autoridades. (Veja: 1Pe
2.13-23; Rm 13.1-7; 1Tm 2.1-3)
Os demais apóstolos estão em pleno acordo com esses princípios. Tiago
reconhece as injustiças praticadas contras os pobres no mundo, muitas
vezes pelos ricos. A sua resposta não sugere protestos e manifestações,
mas antes lembra a proximidade da vinda do Senhor. João nunca faz alusão
ao assunto em suas epístolas. Sofrendo um injusto exílio
“por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”,
ele é guiado a escrever o Apocalipse, que descreve o derradeiro fim que
as forças ativas neste mundo terão sob o comando da justa mão do
Senhor. Não há aqui alusão de que os cristãos deveriam tomas as coisas
em suas próprias mãos. E Judas, expondo-nos a corrupção dos últimos
tempos, não diz
“faça alguma coisa”, mas orienta os
cristãos que se guardem no amor de Deus e que se dediquem a servir os
outros. (Veja: Tg 2.6; 5.1-9; Ap 1.9; Jd 3-13; 20-23)
O Novo Testamento declara que o cristão é cidadão do céu, cuja esperança
e chamado não dizem respeito a este mundo. Está por aqui apenas de
passagem rumo a sua pátria celestial. Logo, é peregrino e forasteiro.
Durante a sua estada aqui, o cristão também é um embaixador de Cristo
que roga à humanidade que se reconcilie com Deus. O cristão embaixador
pode vir a encontrar-se com todas as classes de pessoas, das mais
humildes às mais elevadas, e talvez até tenha de sofrer como Paulo, que
se disse
“um embaixador em cadeias”. Sabemos de três
ocasiões em que esse mesmo Paulo valeu-se serena e deliberadamente de
seus privilégios de cidadão romano. Porém, jamais o encontramos
organizando nenhuma manifestação, nem fazendo protesto algum, nem
implicado em desobediência civil nenhuma. (Veja: Fp 2.20,21; Hb
11.13-16; 1Pe 2.11,12; 2Co 5.20,21; Ef 6.20; At 16.37-39; 22.24-29;
25.9-12)
Em vez de resolver os problemas com seus próprios recursos, vemos os
cristãos primitivos orando quando lhes sobrevinha alguma dificuldades.
Em atos 4, temos a oração como reação espontânea deles às ameaças contra
Pedro e João. Em Atos 12, encontramos Tiago martirizado, Pedro
aprisionado e a igreja orando sem cessar. Em Atos 16, Paulo e Silas oram
e cantam louvores na prisão. Os prisioneiros ouviram-nos e não fugiram
quando Deus de modo magnífico demonstrou o seu poder no terremoto que
lhes soltou as cadeias e os libertou. Esse maravilhoso poder libertador
da oração também pode ser constatado em Atos 27, onde nem mesmo a forte
tempestade que arruinou o navio que levava Paulo a Roma fez cessar as
orações do apóstolo. Mas tarde, em várias de suas epístolas da prisão,
Paulo ora pelos seus filhos espirituais na fé. (Veja: At 4.23-31;
12.5,12; 16,25-29; Ef 1.15-22; 3.14-21; Fp 1.9-11; Cl 1.9; Fm 1.4; 2Tm
1.3)
O mesmo se pode dizer de Pedro. Ele, que anteriormente em sua
precipitação e seu zelo tinha cortado a orelha do servo do sumo
sacerdote, agora já não mais se envolve nessas insensatas manifestações.
No final de sua vida, inspirado pelo Espírito de Deus, ele escreve
acerca do papel do cristão e do seu proceder num mundo que é hostil
tanto a ele quanto a seu Senhor: