Rádio Acesa FM VR: Duvivier, Hubert e humoristas na Flip indicam livros engraçados - FLIP 2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Duvivier, Hubert e humoristas na Flip indicam livros engraçados - FLIP 2014

Duvivier, Hubert e humoristas na Flip indicam livros engraçados

Enquete também teve Antonio Prata, Claudius e Reinaldo do Casseta.
Millôr, Jaguar e Machado de Assis estão entre os citados; leia trechos.

Do G1, em São Paulo
"Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, é citado duas vezes. Campos de Carvalho, Stanislaw Ponte Preta e Jaguar, idem. Mas o destaque é Millôr Fernandes: são quatro menções ao homenageado da 12ª Festava Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa nesta quarta-feira (30).

A pedido do G1, cinco dos principais humoristas que vão participar do evento apontaram os livros mais engraçados que já leram. Foram consultados o cronista Antonio Prata, o desenhista e caricaturista Claudius, o poeta, ator e integrante do canal Porta dos Fundos Gregorio Duvivier e Hubert e Reinaldo, do “Casseta & Planeta”.
Numa edição da Flip na qual o próprio curador aponta que a comédia deve dar o tom, veja abaixo quais são as referências dos convidados.
O escritor Antonio Prata (Foto: Renato Parada/Divulgação) 
Antonio Prata (Foto: Renato Parada/Divulgação)
Antonio Prata, autor de ‘Nu, de botas’

"Que pergunta difícil, deixa eu pensar um pouquinho. Acho que dois livros do Campos de Carvalho: 'O púcaro búlgaro' e 'A lua vem da Ásia'. São livros tristes mais muito, muito engraçados. Porque, quando você fala em humor, as pessoas acham são temas leves, temas humorísticos. Mas, no seu ‘Decálogo do verdadeiro humorista’, o Millôr fala que o humorista tem de pegar o assunto mais sério. E acho que o humor, quanto mais mete o dedo na ferida, mais engraçado é o humor. O Campos de Carvalho é triste, os livros são até depressivos – mas são hilariamente depressivos. Li na adolescência e releio sempre.

Outro livro está entre os mais engraçados é 'Memórias póstumas de Brás Cubas'. Também sempre releio, é a fina flor do humor nacional. Na escola, eu devo ter lido, mas não lembro de ter sido impactado, não. Acho que isso aconteceu mais tarde. Na adolescência, também li uma coletânea do Millôr, '30 anos de mim mesmo', e um do Verissimo, 'O analista de Bagé'. Esses aí me representam."

Trecho de 'Memórias póstumas de Brás Cubas'

"...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pais, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
– Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: – Gatuno, sim senhor, não é coisa um filho que faz isto..."

Claudius, desenhista e caricaturista

"Eu posso citar filmes: 'Quanto mais quente melhor', 'Quinteto da morte', 'Dr. Estranho', 'Um peixe chamado Wanda' e naturalmente tudo do Chaplin. De livros, acho engraçadíssimos os do Campos de Carvalho. Acaba de sair um livro com cem contos do Campos de Carvalho, e eu ilustrei. É um livro feito por uma sociedade de bibliófilos de Brasília. Você pode abrir o livro em qualquer lugar e ler qualquer conto – é engraçadíssimo. Outra coisa que eu citaria é 'Millôr definitivo – A bíblia do caos', que é absolutamente genial.

Outro cara engraçadíssimo é o Stanislaw Ponte Preta. E, antes dele, absolutamente genial, tem o Barão de Itararé, que deixou pouca coisa escrita. Mas tenho um almanaque dele que é hilário, muito engraçado. O Barão de Itararé foi o máximo na época dele. Tem uma história famosa dele, de quando ele fazia o jornal 'A Manha', uma paródia do jornal 'A Manhã'. Um dia, a polícia do Getúlio Vargas entrou lá na sede do 'A Manha' e bateu no Barão de Itararé. No dia seguinte, ele pendurou na porta um aviso: 'Entre sem bater'."

Trecho de 'Millôr definitivo – A bíblia do caos' (LP&M):

"– Aceita esse cargo, sim. Nada tendes a perder senão a vossa covardia.
– Nunca ninguém perdeu dinheiro investindo na desonestidade.
– Só louco rasga dinheiro? Bobagem. Nem louco rasga dinheiro. Experimente jogar uma nota de cinquenta (ou mesmo de um!) num pátio de insanos. Vai ter briga pra pegar.
– Como posso ser compreendido por milhões de medíocres que continuam a acreditar em caderneta de poupança?
– Na nota do freguês nunca esquecer de somar também o dia e o ano. Se o freguês reclamar a gente dá outra nota e põe a diferença como desconto para clientes especiais. Os bancos fazem isso o tempo todo.
– Pra quem gosta de puxar, qualquer saco serve. Acaba sempre puxando o saco certo. O de dinheiro.
– Quando o paciente emocionado, diante do médico que lhe salvou a vida, declarou que 'não tinha como lhe pagar', o médico sábio esclareceu: "Meu filho, desde que os fenícios criaram o sistema fi duciário essa questão está plenamente resolvida'.
– O ser humano só aprendeu a contar depois que o dinheiro apareceu na face da Terra. O homem aprendeu a contar pra poder contar dinheiro.
– Lucro ilícito é precaução mínima que você tem que tomar pra não ter prejuízo".

O humorista Hubert, do 'Casseta & Planeta' (Foto: Alex Carvalho/Rede Globo) 
Hubert(Foto: Alex Carvalho/Rede Globo)
Hubert, integrante do ‘Casseta & Planeta’

"Essas coisas de livro mais engraçado e melhor filme são sempre complicadas, porque tendo a achar bom o que acabei de ler. São tantos... Não sei se é o mais engraçado, mas vou citar um que acho muito bom, do Jaguar, que agora foi reeditado: 'Átila, você é bárbaro'. Foi publicado original há 46 anos e é um dos melhores livros de cartuns que já vi. Não perdeu a atualidade e mostra o traço do Jaguar na fase áurea, é muito bacana. Não é o mais engraçado que vi na vida. [Depois, por e-mail] Lembrei de um dos mais engraçados que eu já li: 'Uma confraria de tolos', de John Kennedy Toole."

Trechos de 'Uma confraria de tolos' (BestBolso), de Kennedy Toole:

"Eu suspeito que sou o resultado de um esforço particularmente fraco por parte do meu pai. Seu esperma provavelmente foi disparado de um jeito bem improvisado."
"'Não está em seu destino ser bem tratado', gritou Ignatius. 'Você é evidentemente um masoquista. Bom tratamento vai confundir e destruir você'"
O ator, humorista e escritor Gregório Duvivier (Foto: Renato Parada/Divulgação/Companhia das Letras) 
Gregório Duvivier (Foto: Renato Parada/Divulgação/
Companhia das Letras)
 
Gregorio Duvivier, poeta, ator e integrante do canal de humor Porta dos Fundos

“Hoje em dia, rio muito com as crônicas do David Sedaris, 'De veludo cotelê e jeans'. Dentre os brasileiros, fora o Millôr, já ri muito com o Sergio Porto [ou Stanislaw Ponte Preta], [Luis Fernando] Verissimo ("Comédias da vida privada”) e, por incrível que pareça, com Nelson Rodrigues, que tem um humor dilacerante – ‘Nelson Rodrigues por ele mesmo’."

Trecho de 'De veludo e cotelê e jeans' (Companhia das Letras), de Davidi Sedaris:

"A única alternativa seria obedecer às instruções da minha mãe e me olhar bem no espelho. Aquele era um velho truque, destinado a fazer a pessoa virar o ódio contra si mesma, e, embora eu estivesse determinado a não me entregar a ele, era difícil me livrar da imagem mental despertada pelo comentário dela: um garoto sentado na cama, a boca toda borrada de chocolate. É um ser humano, mas também um porco cercado de lixo, se empanturrando para privar os outros. Se fosse essa a única imagem existente no mundo, você seria obrigado a lhe dar toda a atenção, mas felizmente havia outras. Aquela diligência, por exemplo, despontando na curva com sua carga de ouro. Aquele Mustang conversível, novinho e reluzente. Aquela adolescente com a cabeleira magnífica, tomando Pepsi por um canudinho, uma imagem atrás da outra, sem parar, até o noticiário, e qualquer programa que viesse depois do jornal".

O humorista e desenhista Reinaldo, do 'Casseta & Planeta' (Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo) 
Reinaldo(Foto: Zé Paulo Cardeal/TV Globo)
Reinaldo, cartunista e integrante do ‘Casseta & Planeta’

“É sempre difícil fazer esse tipo de lista, mas vamos lá:

‘30 anos de mim mesmo", do Millôr;
‘Átila, você é bárbaro’, do Jaguar;
A obra do Luis Fernando Verissimo;
A obra do Ivan Lessa (eu digo a obra porque o Ivan Lessa, por exemplo, tem muita coisa boa que não foi para o formato livro, são textos que ele publicou no Pasquim, e ficaram por aí...).
Por falar em obra, se o Millôr estivesse aqui ia me sacanear. Ia dizer que quem faz ‘obra’ é pedreiro, essas coisas... E tem também o ‘Memórias póstumas de Brás Cubas’, do Machado de Assis, que é um excelente livro de humor.”

Trecho de 'Em algum lugar do paraíso', (Objetiva), de Luis Fernando Verissimo:

"Mas quando Deus colocou Eva ao lado de Adão, a primeira coisa que ela perguntou, ainda úmida da criação, só para puxar assunto, foi: “Que dia é hoje?”, e ele sentiu que sua paz terminara. Ele era um homem no tempo. Um homem com um ontem e um amanhã, e um futuro estendido à sua frente como um imenso pergaminho, esperando para ser preenchido. O tempo não foi a única novidade trazida por Eva ao jardim do Paraíso. Foi ela que, dias depois, colheu o fruto proibido, que os tornou, de uma só mordida, sexuais e mortais. E foi depois de comer o fruto proibido, quando a Terra entrou na sombra da noite e os dois se deitaram lado a lado, que Adão sentiu seu membro, que ele pensara que fosse só para fazer xixi, se mexer. E avisou a Eva:
- É melhor chegar para trás porque eu não sei até onde este negócio cresce.
Depois de ganhar uma mulher e descobrir o tempo e sua mortalidade, Adão descobriu seu próprio corpo. Que semana!"

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