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Foto: reprodução |
Por todos os lados as labaredas lambiam as embarcações...
Era uma fogueira de revolta... Fagulhas de uma população dizendo basta.
Este
era o cenário principal de uma rebelião popular, ocorrida em 22 de
maio de 1959, contra o serviço de transporte hidroviário que fazia a
rota Rio-Niterói e que ficou conhecida como “A Revolta das Barcas”.
A rebelião, além de seis mortos e 118 feridos resultou na queda dos empresários do Grupo Carreteiro que administravam o serviço.
Com a destruição da frota foi necessário a intervenção federal e a consequente estatização das barcas.
No
final da década de 1950, nem se sonhava com a construção da ponte
Rio-Niterói e as barcas eram a única maneira de atravessar a baia de
Guanabara. Vale lembrar que o Rio de Janeiro era a capital do Brasil
nesse período.
Por isso, na época, metade dos cerca de
duzentos mil niteroienses, dependiam das barcas para ir trabalhar,
estudar e resolver problemas que só eram possíveis serem resolvidos na
capital.
O Grupo Carreteiro vivia solicitando apoio
financeiro ao governo para cobrir os supostos gastos com a manutenção
das barcas. O governo normalmente negava alegando que o grupo prestava
falsas informações sobre os gastos.
Havia uma forte
suspeita de que a empresa gastava menos da metade do que exigia. Mas a
desconfiança nunca foi devidamente investigada.
O
serviço que passou a ser oferecido pelo estado era precário e não dava
vazão a demanda. E, naquele 22 de maio, a população começou a se
aglomerar na rampa de acesso as barcas. Os ânimos foram se acirrando e
os atrasos foram o estopim que faltava para aumentar a tensão local.
Para piorar a situação, os fuzileiros navais que tentavam colocar a fila em ordem começaram a agir com violência.
Tomados
pela fúria, os usuários das barcas marcharam para o escritório da
empresa, a três quilômetros do foco da revolta. Invadiram a sede e
arremessaram tudo o que era possível arremessar pela janela. No
fim...tudo era chamas.
Na parede, antes de partirem, um
último ato de desagravo: "Aqui jazem as fortunas do Grupo Carreteiro,
acumuladas com o sacrifício do povo."