Uma carta apresentada ontem (01) por Simone de Oliveira, de 39 anos, mãe de Suzana do Carmo de Oliveira Figueiredo, de 22 anos, pode mudar a linha de investigação policial a respeito do assassinato contra o menino João Felipe Eiras Santana Bichara, cometido no último dia 25 de março e confessado pela manicure. Ele morreu por asfixia no Hotel São Luiz, no Centro de Barra do Piraí.
Na carta - que, na verdade, são quatro folhas soltas dentro de um caderno -, Suzana escreve toda a trajetória do crime que ela praticaria contra o menino. Ela detalha que pegaria João Felipe na escola e, depois, o levaria até o hotel.
Outro fato que chamou a atenção do delegado titular da 88º DP, José Mário Salomão Omena, foi que Suzana pretendia pedir um resgate aos pais do garoto, os empresários no ramo imobiliário Heraldo Bichara Filho e Aline Eiras Santana Bichara, no valor de R$ 300 mil.
- Não afasto a hipótese da motivação do crime ter, neste contexto, o fator emocional. O que eu vislumbro, agora, com essa carta escrita por Suzana, é que ela não tinha só um objetivo, mas vários: poderia, em toda essa tragédia, ter a intenção de pedir resgate à família de João Felipe, mas, quando entra no hotel, onde executa do menino e sai com a criança no colo, não tenho dúvida de que ela não pretendia entregar esse menino vivo aos seus pais. Mesmo que ela pedisse resgate ou qualquer coisa do gênero, a intenção dela era mesmo executar João Felipe. Mesmo porque, com o pedido de resgate, ela poderia ser descoberta, já que a criança a conhecia - disse o delegado.
Na carta, Suzana faz contas das dívidas que pagaria com os 300 mil reais. Pelos cálculos dela, sobrariam ainda R$ 299 mil.
- Este é mais um indício de que Suzana estava sozinha nessa empreitada criminosa. Essa carta descreve alguns passos da forma como ela executou o crime - disse o policial.
O delegado tem apenas três dias, a partir de hoje, para concluir o inquérito policial e remetê-lo ao Ministério Público Estadual. Segundo o policial, por se tratar de réu, o Código Processual Penal Brasileiro estipula prazo de dez dias para a conclusão do documento.
José Mário Omena indiciou Suzana por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, já que a criança foi encontrada morta dentro de uma mala na casa dela, na Rua Cristiano Otoni, no Centro. Ainda de acordo com o delegado, devido à carta cita o valor de um eventual resgate, o MP - que vai denunciar ou não a acusada - poderá entender que houve também extorsão mediante sequestro.
Depoimento
Simone de Oliveira, ao depor, falou dos relacionamentos conturbados da filha. O atual companheiro de Suzana é um homem conhecido como Igor, que trabalha em Três Rios.
- Minha filha saiu de casa quando tinha 16 anos, em 2007, e foi morar com Igor. Os dois se conheceram na escola.
O relacionamento, porém, não deu certo, e ela foi morar com outro homem, voltando a se separar pouco depois. Suzana reatou com Igor, com quem se encontrava a cada 15 dias, mas mantinha um relacionamento com o camelô Maicon Santiago Olímpio, de 26 anos, que também depôs na segunda-feira, na 88ª DP. A mãe disse que a filha mantinha, ao mesmo tempo, um outro relacionamento com um homem conhecido como "Coroa" - que ela não chegou a conhecer o verdadeiro nome -, que a sustentava com roupas e bolsas.
Simone informou que Suzana nunca deu muitos detalhes sobre esse relacionamento. A manicure chegou a comentar com a mãe que tinha feito amizade com os patrões dela.
Segundo o policial, os patrões citados pela depoente eram Aline e Heraldo Bichara. José Mário Omena também tomou, no mesmo dia, o depoimento de Maicon, que teria sido enganada pela manicure com a informação de que ela teria terminado seu outro relacionamento. Por isso, o camelô passou a fazer as despesas da casa dela.
- Quando Igor chegava em Barra do Piraí, Suzana dizia a Macon que ela iria visitar a mãe, ficando sozinha em casa com Igor. Ela dizia a Macon que não o levaria à casa de sua mãe porque ela não gostava de negros - disse o delegado.
Maicon disse no depoimento que terminou o relacionamento ao perceber o comportamento diferente dela quando ele começou a ficar sem dinheiro. Ao delegado, o camelô relatou que Suzana considerava João Felipe insuportável. Ela frequentou a casa dos pais do menino por três anos, como manicure de Aline.
Detalhes
Ainda de acordo com Maicon, Suzana contava para ele que o pai do menino, Heraldo Filho, a assediava, mas que ela nunca teve qualquer relacionamento com ele. Ela Acrescentou que o casal viveria um casamento apenas de aparência.
Na opinião do delegado tanto Maicon quanto Igor não sabiam dos planos de Suzana. O policial está tentando localizar Igor para depor, mas já adiantou que seu depoimento não deverá pesar muita coisa nas investigações.
Heraldo, o pai de João Felipe, deverá depor às 10hs desta terça-feira. Ele nega qualquer tipo de envolvimento amoroso com a manicure. Aline já depôs na última quinta-feira, e disse desconhecer qualquer envolvimento do marido com Suzana, que considerava como amiga confidente.
Quem também compareceu hoje (01) à unidade policial foi o taxista Rafael Fernando, que pegou o menino no Colégio Nossa Senhora Medianeira a pedido da acusada.
Rafael foi informado de que a voz que ele ouviu no dia do crime, pedindo para devolver uma criança, não era direcionada a Suzana, mas sim de uma vizinha falando com sua filha.
Possível gravidez
Além da carta, a mãe de Suzana, Simone de Oliveira, entregou ao delegado um ultrassom. O exame estava entre os pertences da acusada, e indicava uma gestação de cinco meses.
- O ultrassom estavam em nome de outra pessoa, mas Suzana poderia ter inventado outro nome quando fez o exame. Vou conversar com o médico responsável, e caso ele não queira falar sobre o assunto, pedirei à Justiça a quebra do sigilo médico. Fui informado que Suzana fez um aborto há cerca de três meses, embora ela alegasse que nunca ficou grávida - disse o delegado.
No dia do crime, Suzana também ligou insistentemente para Aline, convidando-a para irem juntas a Volta Redonda, onde ambas faria um exame de sangue, podendo fazer parte do plano da manicure para matar a empresária - ou, até mesmo, criar um álibi para que não desconfiassem dela quando sequestrasse João Felipe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela sua mensagem. Entre em contato com a nossa redação através do WhatsApp (24) 9 9914-5825